domingo, 31 de maio de 2009

Daniel de Maio Silveira

O mês de Maio se foi. É uma pena, porque é um mês bonito. Maio é uma palavra bonita, curta e sonora, rima com Balaio, soslaio e desmaio. Maio é quase "meio", muda pouca coisa. É um mês vermelho com gosto de maçã, sinestesicamente - muito gostoso por sinal.  Fora que é outono, estação maravilhosa. Mas maio me lembra Maia (não, não é a mulher do maio). Maia vem de Daniel, portanto, maio é o mês do Daniel, que faz aniversário no dia 6, de maio é claro.

Eu não tive a idéia de homenagea-lo no dia 6, na verdade só descobri tudo isso quando eu vi a data (31 de maio de 2009) e lembrei dele.

Desta forma, dedico este post a ele e publico uma poesia que fizemos juntos. Na verdade ele fez e eu fiz uma resposta e é a minha preferida de todas.

Estou fazendo isso sem autorização, portanto, se ele ficar bravo, vcs falam que gostou da poesia, que é a mais bonita que vcs já viram e fica tudo certo.

(colocarei as duas juntas, pq é uma resposta)

SAZONAIS DESGOSTOS                                                 DESGOSTOS PRESSUPOSTOS

Eu não insistirei no nosso amor.                                       Desde sempre os pertences foram nossos,
Não há mais nada a fazer,                                                  Mas já há tempo o amor não nos pertence.
apenas separarmos nossa dor                                           Uma insistência, infelizmente,
nos pertences que agora se vê.                                         Seria mais dor a dividir.

Leve todos os discos – não os quero –                             Posso ficar com as cartas?
foram eles que embalaram as nossas vidas,                   Quem sabe um dia eu sinta falta
mas fico com os Pessoas e os Drummonds                      Das nossas noites mais bailadas
que cuidarão das minhas tristezas ressequidas.             Dos recitais enamorados.

Esvazie os armários e poupe-me da dor                          A lembrança sempre é traiçoeira
de ainda ter em suas roupas a lembrança                       E dela não sou isenta
de que um dia partilhamos um amor.                              Ainda lembro do nosso amor.

Restará ainda o seu perfume nos lençóis                         Restará de ti os sustenidos e bemóis
e no meu pente um fio do seu cabelo,                               As canções do nosso mundo inteiro
em minhas memórias os felizes girassóis,                        Como se tudo exalasse teu cheiro
no meu peito o mais profundo desespero.                        Carimbado nos meus girassóis.

Quando o tempo diluir as suas feições                               Se meu rosto sumiu do teu
e eu não mais recordar o seu rosto                                    Se o tempo não se opôs,
é porque sua imagem foi embora com as monções          Nossos desgostos foram pressupostos
numa vida de sazonais desgostos.                                      Numa vida de sazonais paixões.

Daniel Maia Silveira                                                               Nayara Oliveira

Bonita, fala sério!! Meu amigo é um talento em organismo.

Quer mais?

http://danielmaiasilveira.blogspot.com

À pessoa que tanto fez em importância na minha vida. Que tanto me compartilha e me atura, minhas maluquices e minhas fissuras. àquele que só quer a paz e a simplicidade. Aquele que é amigo de verdade.

Dani, você é arte e você faz P.arte (de mim).




sábado, 30 de maio de 2009

Dela Rosa


Não é o Samuel nem o Noel, trata-se de um(a) outra Rosa, que quem sabe um dia...


A Rosa, Dela Rosa
Tanto encanta quanto posa
Aos olhares de quem gosta
Aos ouvidos que canta.

A voz que lembra meu bem
Tanto faz se não me convém,
Mas a rosa tocada ao ouvido
É sentir carinho ao sentido
Inalando alguém...

Teu cheiro de poética paixão
Às rosas neste salão.
Vermelha tua música no meu corpo
Arrepia as bases bambas.

Eu ouso um dia saber,
No escopo nas verdades as tantas,
Alegrias que as rosas provocam quando cantam.

(essa sou eu, mas não contem pra ninguém)


quarta-feira, 27 de maio de 2009

Retrato do meu porta-dia

O retrato
A casa mais bonita da rua é amarela, espero que um dia ela pisque pra mim, mas eu nunca tenho tempo de olhar pra ela diretamente. Os três barcos vermelhos que passaram por mim na praia, não entraram no ônibus e ficaram a ver os navios. A barquinha me coloca nos braços e me embala numa canção marítima suave que os anjos sabem bem qual é, menos o senhor do lado que mal sentou de tanta pressa, mais a senhora do lado que é a própria pintura em tela de um quadro (social) de Monet. No trabalho todo mundo sorri, mas ninguém está feliz. O sorriso é o crachá de identificação. O Rapaz de blusa branca entrou no ônibus na volta, ele não olhou pra mim, mas eu bem que olhei pra ele. É certo que ele tinha as costas muito bonitas, é certo que eu sou tímida demais. O gato creme, com olhos cor de brilhante pousou numa foto pra mim. Está tudo no meu porta-dia.

terça-feira, 19 de maio de 2009

No ponto de ônibus

Sai de casa pra procurar algo elementar, algo que fizesse com que eu sentisse calor. Obviamente não o sol, mas algo que sofresse de ostracismo ou que soubesse falar da vida. Mentira, eu sai de casa pra ir pro trabalho também. Mas isso era só um detalhe sórdido.

Era longa a caminhada até a esquina, mas era só virar pra esquerda e parar no ponto em frente a padaria. Estava lotado, cheio de gente por todos os lados, disputando milimetricamente a visão e o quadrado. Não tinha espaço pra mim ali, não tinha espaço pros meus pensamentos.Um ônibus chegou, ia pro centro. Como macacos, subiram alguns tantos se juntando aos montes já enlatados. Foi embora de maneira que a primeira marcha reclamou de tanta dor, mas depois obedeceu ao pé do motorista.

Os carros, folgados e apressados, mas sozinhos tentavam correr inutilmente com seus ternos e sapatos de couro de cabramacho. A mulher do meu lado, conseguia ser mais alta. Era bonita, mas eu sabia que ela estava procurando um namorado, porque olhava mais pros rapazes do que pra direção do ônibus. Não a condeno, sofrer de solidão dói mais que aguentar o salto alto no final do dia.

O 77 chegou e, da mesma forma que o outro, tinha braços e cabeças pra fora das janelas. Eu nem me arrisquei a subir. Aquilo não era o que eu estava procurando e nem deveria ser o que eu deveria achar. Deixei passar e esperei o próximo.

Com os passar do tempo o ponto foi esvaziando e eu mais no quadrado, me enquadrando. Até que eu fiquei só. As horas nessas horas não são a coisa certa a ver e não eram elas que me ajudariam quando eu chegasse ao trabalho. E de repente eu entendi o porquê que eu não estava irritada, porquê eu sentia frio e porquê eu não fui embora.

Um filhote de árvore plantado na sua cerca estava no meu lado. Por pouco pisoteado, verdinho que dava pra ver a clorofila passeando por entre suas novas veias, fraquinho que precisava de um pedaço de pau pra crescer. Não estava ali porque queria pegar o ônibus pra ir trabalhar. Nem as pessoas que ali estavam queriam fazer companhia pra ele. Nem eu que estava atrasada tinha percebido sua presença.

Pulei a cerca e fiquei fazendo fotossíntese com ele. Um diálogo interessante. Não demorou e me livrei dos casacos e estendi o braço apontando o dedo em direção ao outro lado da rua. O ônibus parou cheio de ar, eu subi. Meu patrão, que estava com frio, não entendeu minha posição. Azar o dele, que não sabe falar da vida.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Na praia


Um dia de praia pode ser mais que um sorriso...


Caminhei até a beira da praia e procurei um banco e uma sombra fresca. Ainda bem que existe uma árvore para me abrigar em baixo de suas asas, assim como minha mãe. Longe eu via um navio se despedindo, rumando ao infinito, ao desaparecer.

Uma pomba veio se sentar comigo, me olhou como se procurasse explicação. Respostas eu não tinha, então ficamos a olhar as pessoas encoleiradas a passear com seus cachorros. Lá na água suja da praia cansada, um peixe que dava braçadas descoordenadas conforme o medo de se afogar no raso. O barrigudo de pele clara e óculos escuros, sunga branca e barba preta andava rápido, com falta de ar, se esquecendo de que veio à praia pra descansar.

Uma velha se sentou do nosso lado, vestida com saia de pano de chão e camiseta de político surrada. Olhou-nos como se procurasse explicações. Respostas nós não tínhamos, então ficamos a olhar a criançinha de 50 centímetros que corria pelada pela praia dando 50 mil passos pra chegar à beira d’água.

As crianças do orfanato brotaram nos nossos ouvidos do nada. Olhamos, sincronizados, para o lado e vimos como elas eram felizes por disputar um téco de água no chuveirão, como nada importava naquela hora, a não ser a hora em que voltariam pra brincar na areia e se banhar no mar. Eu tive saudade daquela felicidade. A velha saiu nesta hora, talvez com medo ou porque tinha que fazer almoço. A pomba não fez cara de tanto faz. Uma família feliz passou rindo por nós.

Enquanto isso o louva-deus, verde como a esperança, sentado na árvore, olhava pra mim e via alguém de calça jeans e óculos escuros, branca como a noite e cabelos bagunçados ouvindo Kings of convenience. Eu olhei pra ele como se procurasse explicações, respostas ele não tinha. A pomba voou, o louva-deus ali ficou e eu fui pra casa comer minha melancia e ler Alberto Caeiro.
Foto tirada no Embaré, Santos

domingo, 10 de maio de 2009

Do âmago ao estanho

Vivi uma situação muito "normal" hoje em dia: a ilusão. Que dá o mesmo frio na barriga, a vontade de viver intensamente, de sair correndo e abraçar tudo, dar o mergulho de olhos fechados sem saber o nome do mar. Mas que, quando se mostra te joga no chão, tomando seu peito de sentimento triste e choro, de raiva pelo fingimento alheio, de traição. Essa é a ilusão.

Hoje, nossa paulicéia desvairada vestiu-se de nublado, como seu pretinho básico pronta pra pegar um cine cultura café com paixão. Eu, me vesti de cobertor e meia, veste a rigor caseira, fiz companhia pra televisão.

Desse tudo que foi meu dia, restou a poesia pra me explicar onde está o meu coração.

Do âmago ao estanho
na areia a angariar,
neste mar de sombras tristes,
ter o ânimo de voltar.

Traga você, que me partiu,
- eu não vou buscar -
as velhas vestes varridas
que neste corpo de vida
tantas vezes despiu.

E os cacos que encobre,
são vidros desta areia
que me prende nesta teia
feita de fios de cobre.

Sob as placas de metano
este valor tão mundano,
ainda inflama discreto
chamas do peito aberto.

Esquecer o meu coração
nos seus braços de mal me quer
cheio de vazia solidão
da ilusão que se fizer.

Traga que me pertence
pulso suposto estranho
de desejo que aquiesce
do âmago ao estanho.

Momma someday you'll be so proud of me...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Em dó

Sabe os dias em que qualquer música parece ter sido escrita pra você? Qualquer nota musical parece te compor? Então, hoje estou assim. Hoje estou em ...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O encontro

Essa mesa de bar já está pequena pra mim. Meus pensamentos andam muito mais espaçosos do que deveriam e este conhaque com groselha já tirou as minhas vestes pesadas. Na verdade era pra nos encontrar numa cafeteria como fazíamos antigamente, mas eu mudei, amadureci como um pêssego vibrante. Desde o último dia em que o vi, aprendi como me comportar em sua frente e agora sei o que não devo fazer. Este conhaque é só pra esquentar a frágil confiança e para não deixar que meus olhos me envergonhem.
Na verdade eu não acreditei quando ele disse que viria, ainda deixou que eu escolhesse o local. Sabia que isso seria uma provação, logo ele que é tão conhecedor dos “cafofos” mais propícios para as diversas ocasiões. É claro que eu me socorri dos amigos influentes, mas não acho que errei. Sei que ele gosta de discrição e por isso, acredito que este bar é o melhor lugar para esse reencontro.
Sonhei tanto com esse momento, desde aquela ligação no meu aniversário dizendo que não podia me acompanhar. Está certo que o que eu mais queria naquela hora era pular no pescoço dele, furar-lhes os olhos e arrancar cada fio daquela barba mal feita. Mas eu sei que eu estava apressando as coisas e com isso ele se assustou e sumiu. Eu tive culpa nisso tudo, por isso estou aqui. A culpa foi dos dois, mas eu só lamento de não ter dado certo.
O ruim nisso é que a Lucy não sabe que eu estou aqui, nem a Kitsune, porque se soubessem viriam me buscar e ficariam falando tanto bla bla bla no meu ouvido que... Pena que não posso ligar pra conversar com alguém enquanto ele não vem. Essa música é demais, mas o Cobain só ajuda quando estou trancada no quarto.
Já se foram quatro doses, e meu Deus! Afaste o relógio de perto de mim, minhas mãos estão finas de tanta gastura. Quem é esse cara que não pára de olhar pra mim?! Deve estar pensando: “Nossa, quem é essa idiota que vai beber sozinha? Coitada, não tem amigos, nem namorado...”. Idiota é ele, eu tenho amigos e não tenho namorado porque não quero, imagina, namorar, eu não tenho tempo pra isso. Porque ele está dando tchauzinho? Que absurdo, nem vou olhar, vai tarde. Deixa o Marcio chegar pra ele ver.
Ah! De quem é essa mão no meu ombro? Ai ele chegou, calma, respira. O que eu faço, brigo porque ele demorou? Ou finjo que nem notei? Ou digo apenas que tinha acabado de chegar? Oi... garçom?
- Srta. Sinto lhe informar, mas estamos fechando em 30 minutos. Peço para que se dirija ao caixa.
- Ahh, fechando...Há algum recado pra mim?
- Não senhora.
-Vou aguardar mais um pouquinho.

domingo, 3 de maio de 2009

Virada cultural

Depois de uma semana agitada, eu realmente esperava que tudo fechasse com chave de ouro, pois aconteceria, na minha cidade, a virada cultural. Estava feliz e orgulhosa por morar em São Paulo, por ser paulistana e por presenciar esse manifesto artístico colossal,  proporcionalmente ao tamanho que a cidade tem. Todos os tipos de artes: dança, música, cinema, literatura, pintura, teatro e alguma outra forma que não me lembro; inseridos na mesma noite, no mesmo contexto na mesma dinâmica. Todas simultaneamente, em todos os lugares e,  na maior parte, no coração da máquina, o centro.

Poucos conhecem a beleza daquele lugar, pois por ali passam todos os dias, mas nunca têm tempo de olhar pelas paredes ou pelo corredor. O centro de São Paulo é dotado de peculiaridade, é o retrato da cidade com um pedacinho de tudo. Tomado pela dicotomia da beleza com o horrível, do prazer com a dor e do tradicional com a modernidade descreve o silêncio dos pobres e a cegueira dos ricos, o sentido dos opressores e a desgraça dos oprimidos e nos proporciona, ainda sim, a hospitalidade de uma mãe brasileira.

A junção da manifestação artística com a mágica do centro de são paulo, fez da noite de ontem parecer um lugar místico. E por alguma hora foi, para alguns foi, por um sorriso foi, mas não foi para a multidão que estava ali para fazer p.arte do mecanismo de encantamentos. Os ingênuos como eu que se dirigiram até lá pensando que encontrariam suspiros de arte a todo lugar e a todo olhar, agregaram a si uma grande descepção. Encontrei muita arte, sim e por isso já valeu. Mas as pessoas que encontrei  não mereciam este presente que São Paulo lhes deu. Dotadas de má intenção, de balburdia, drogas, álcool e do sentimento de impunidade típico, como se naquela festa não houvessem leis. Elas fizeram da virada cultural uma transviada animal esquecendo que ali era festa pra apreciar as artes e não uma oportunidade para agreção, confusão e intrigas.

Talvez o problema esteja na carência dos paulistanos em ver arte no seu cotidiano, uma vez que é elitizada. Talvez o problema esteja na necessidade de esquecer os problemas que tanto pertuba num dia de trânsito e buzinas. Talvez não sabem se comportar em grandes festas e procuram uma distração insana que anestizie, pelo menos à noite, o sono que nunca é sonhado. Mas mesmo diante de todas as desculpas, de todas as carências e de todas as explicações nada é motivo para despir a roupa da sanidade e do respeito e tornar a alegria alheia em medo e pavor. No entanto, eu tenho motivos para me orgulhar da equipe de médicos, enfermeiros e toda estrutura de assistência presente, dos agentes que prestaram orientações ao povo e, principalmente, aos artístas que proporcionaram à minha cidade o prazer e a felicidade de fazer p.arte em mim e em todos que sentiram-se tocados pela emoção de sentir a beleza da expressão humana.

sábado, 2 de maio de 2009

Endereço

Quando quiser me encontrar...

Moro numa rua
que eu não sei de quem é.
Não conheço esse nome
e nem esse homem,
o que ele fez e porque é o dono
da rua de Josés.

Será que foi mesmo importante
para ser notado?
Desculpe-me se fui mal educada
e morei na sua rua sem lhe avisar.

E nessa noite me dei conta
que meu passado não é relevante
que nada fiz para me orgulhar
e que meu nome é só um instante.

Por causa da vida agitada
eu peguei a cuia e a minha mala,
mudei para a sua rua sem te falar nada
e você é uma placa que nada me fala.

Eu sei que meu nome não é mito
e que meu rosto desconhecido é igual,
mas se eu der um grito de fome
minha voz vai se refletir em seu consciente
e cada vez que eu gritar, serei imortal.