segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A gira cardíaca

Olhou pro lado e sentiu um tumulto no coração. Parou. Levou as mãos ao peito e respirou, o oxigênio entrou com alívio, respirara. Estranhou muito, uma sensação de que algo estava acontecendo. Resolveu mandar todo mundo embora pra descansar, tinha sido um dia duro de muitas emoções. Como tudo era muito novo, a pintura na parede, a escrivaninha de madeira real, a cor do esmalte e o cabelo curto, sem tristeza (que estava de castigo) e o amor que estava trocando de sangue. Entrou no chuveiro e Ah! Relaxou.

Enquanto a água quente acariciava seu corpo, seus olhos fechados olhavam pros pensamentos de tudo o que acontecera no dia, como um filme retrospectivo diário. Olhou fundo pra si mesma e sentiu alguma coisa errada em seu coração. Um zumbido estranho começou a gritar em seus ouvidos. Levou as mãos a cabeça e Ai, seu corpo começou a contorcer, sua boca a soltar pequenos gemidos e depois berros de dor e suas mãos em seu peito e um barulho maquinal oriundo do seu coração e a respiração ofegante e ofegante e não respirou. Agarrou as paredes que tentaram lhe dar as mãos, mas caiu antes, se jogou e cansou de sofrer.

Pensou que tinha morrido, mas não. Pôs a mão no peito e voltou a respirar. Profundo e intenso. Coisas do coração. Mais tarde eu soube que naquele dia, o seu coração tinha girado 180 graus, inversão. A cavidade esquerda virou a direita e assim o contrario. Seu coração mudou de posição. Alguns dizem que é por causa dos genes alienígenas, outros dizem que é porque se ama demais. Alguns falam que o coração, por ter vida, fica cansado de trabalhar na mesma coisa, outros dizem que isso é coisa de bruxaria da boa. "A gira cardíaca", chamam os médicos impressionados. Ela se sentiu diferente depois daquele dia e seu batimentos também trocaram de lugar. Agora o seu coração bate ao contrário, livre da escravidão dos sentimentos inacabados...



Esse texto não é exatamente novo, escrevi em algum mês deste ano, não sei. O achei perdido nas minhas memórias e resolvi resgatá-lo. Imagine ter o coração a mecânica de uma roda, como já dizia o Mestre Caeiro, esse comboio de corda...