segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A gira cardíaca

Olhou pro lado e sentiu um tumulto no coração. Parou. Levou as mãos ao peito e respirou, o oxigênio entrou com alívio, respirara. Estranhou muito, uma sensação de que algo estava acontecendo. Resolveu mandar todo mundo embora pra descansar, tinha sido um dia duro de muitas emoções. Como tudo era muito novo, a pintura na parede, a escrivaninha de madeira real, a cor do esmalte e o cabelo curto, sem tristeza (que estava de castigo) e o amor que estava trocando de sangue. Entrou no chuveiro e Ah! Relaxou.

Enquanto a água quente acariciava seu corpo, seus olhos fechados olhavam pros pensamentos de tudo o que acontecera no dia, como um filme retrospectivo diário. Olhou fundo pra si mesma e sentiu alguma coisa errada em seu coração. Um zumbido estranho começou a gritar em seus ouvidos. Levou as mãos a cabeça e Ai, seu corpo começou a contorcer, sua boca a soltar pequenos gemidos e depois berros de dor e suas mãos em seu peito e um barulho maquinal oriundo do seu coração e a respiração ofegante e ofegante e não respirou. Agarrou as paredes que tentaram lhe dar as mãos, mas caiu antes, se jogou e cansou de sofrer.

Pensou que tinha morrido, mas não. Pôs a mão no peito e voltou a respirar. Profundo e intenso. Coisas do coração. Mais tarde eu soube que naquele dia, o seu coração tinha girado 180 graus, inversão. A cavidade esquerda virou a direita e assim o contrario. Seu coração mudou de posição. Alguns dizem que é por causa dos genes alienígenas, outros dizem que é porque se ama demais. Alguns falam que o coração, por ter vida, fica cansado de trabalhar na mesma coisa, outros dizem que isso é coisa de bruxaria da boa. "A gira cardíaca", chamam os médicos impressionados. Ela se sentiu diferente depois daquele dia e seu batimentos também trocaram de lugar. Agora o seu coração bate ao contrário, livre da escravidão dos sentimentos inacabados...



Esse texto não é exatamente novo, escrevi em algum mês deste ano, não sei. O achei perdido nas minhas memórias e resolvi resgatá-lo. Imagine ter o coração a mecânica de uma roda, como já dizia o Mestre Caeiro, esse comboio de corda...

domingo, 28 de novembro de 2010

A velha macieira

Aqui sempre parada,
eu já vi tanta coisa, senti muitas delas.
Nesta terra de homens silentes,
de crianças contentes,
homens que não sabem poder me abraçar.

Aqui então condenada
a carregar em meu corpo forte
Os nomes dos apaixonados,
com a lâmina tatuados,
com as tintas da paixão,
ficam em mim encravados
o que no futuro será passado.

Eu sustento o ar e me alimento da luz
eu paro o vento e faço ele desviar
eu faço você respirar
e você me faz respirar
eu sou elementar.

E a flor que nasce é minha filha
as minhas tantas outras também
O fruto que dá é minha doçura
personagem do pecado do amém.

Não vejo os prédios e casas grandes,
não vejo o mar banhar a costa.
Não sei quantas coisas têm o mundo
Sei o que o vento me conta.
E os passarinhos que aqui nasceram,
e o riso das crianças que aqui balançam,
os poemas dos poetas
e os beijos dos namorados.
o amor deles
(por mim, quem sabe).

Naturalmente queira
tirar fotografia e por em um quadro
e ao mundo apresentar um retrato
de uma velha Macieira.




domingo, 7 de novembro de 2010

Entre nós

Sinto tanta falta daquela coisa.
Sinto tanta coisa daquela falta.
Falta tanta coisa naquele "sinto".
Naquela coisa, sinto tanto que falta.

Entre nós.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sensibilidade





Filme: Onde Vivem os Monstros (Where The Wild Things Are)
EUA, 2009. Direção de Spike Jonze

É uma das cenas favoritas!
Maravilhoso!

domingo, 31 de outubro de 2010

Do querer e da miopia



I
O mundo é mesmo muito estranho, na verdade, as pessoas é que são.
Cada dia que passa eu me sinto menos a vontade no mundo e cada vez mais estranha.
Tenho observado a dinâmica de fatos que aconteceram em minha vida nestes últimos períodos e vejo que quanto mais envelheço, menos sei tomar decisões. Já me disseram que é porque penso demais. Pode ser.
Como eu digo "eu te quero" à alguém? Poderiam me dizer: "dizendo". Mas seria fácil se não houvesse outros fatores que precedem as palavras. Como eliminar a insegurança? (Nota-se que aqui não se trata daqueles casos em que há a exteriorização dos sentimentos e sim um relacionamento nublado)Como eliminar as certezas que se voltam negativamente para esta decisão? Racionalmente falando, é o mesmo que apostar em um cavalo trípede.
Fora o orgulho de não aceitar que não é o bastante, o egoísmo nunca aceita uma rejeição.
Da mesma forma, como dizer "eu não te quero" sem magoar alguém que te quer?
É péssimo.



II
Comprei um óculos. Não porque quero ser legal, mas porque não vejo mais as formas de longe. Eu sei o que elas são, reconheço suas cores, mas não seus detalhes. Achei que podia conviver com isso, até o dia em que não pude ler e ter uma opinião. Até hoje não a tenho e nunca mais terei a oportunidade.
No fundo, eu sei que esta miopia é muito mais extensa do que os meus olhos podem entrever. Realmente eu vejo muito nítido o que está em minha volta, mas a nitidez não importa para aquilo que está longe? Como pude viver míope para aquilo que eu não consigo tocar, posto estar longe. Acho que neste mundo, principalmente neste país, estamos todos míopes. Eu coloquei óculos em meus olhos e vejo um mundo muito mais claro e poluído. Mas não sei onde encontrar óculos para curar esse distúbio socio-visual. A conscicência parece que não ter orelhas nem nariz, como sustentar as hastes e a lente?




sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Seu reflexo


Não sou de plástico ou acrílico. Não sou líquido e fluído. Não sou de bambu ou chita. Não sou dourada ou purpurina, eu não sou só menina. Não sou de clorofila, não sou de algodão. Não. Eu sou de carne e osso, talvez mais osso, mas também carne. Eu sou tato e olfato, te cheiro e te olho. Eu sou seu oposto, seu rosto, o seu gosto. Eu sou você invertido, seu verso desinibido. Eu sou seus trejeitos, seus defeitos e afetos. Sou pureza, a certeza de querer. Sou sua imagem, seu espelho, sou seu reflexo. Eu não sou transparente, eu sou você.




Ouvindo Lenine e procurando meus porquês.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Se sinto, sorrio.


Não há nada mais importante do que ganhar um sorriso daquele que sabe a importância de dá-lo. Talvez haja coisas mais importantes, mas não mais do que naquele momento que se recebe. E o que é o sorriso senão a boca aberta em fenda iluminada pela luz dos dentes. Disseram: É muito mais! E eu sei, mas não consigo explicar em palavras. E não há nada mais importante do que ficar sem palavras para aqueles que sabem a importância de proferi-las. Talvez haja coisa mais importante, mas não naquele momento que se emudece. E o que são palavras senão um conjunto de letras coladas pela língua (que as lambe). Disseram: É muito mais! E eu sei, novamente, mas não consigo explicar em sentimento. E não há nada mais importante que o sentimento daqueles que sabem a importância de se sentir. Talvez haja coisas mais importantes do que o sentimento (o que duvido), mas não mais do que naquele momento em que se sente. E o que é o sentimento senão o porquê de emudecer e sorrir...


Agradeço aos sorrisos que tenho recebido, seja do meus amigos ou desconhecidos, seja daqueles que admiro, seja da criança adocicada, seja do homem amadurecido.

Não há o que dizer, só o que sentir. Se sinto, sorrio.

Sorriso você.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Aos Ricardos e Reis


Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
firme contigo, sofrerás avaro
De penas.

Ricardo Reis






Eu amei um Ricardo
e pelo visto ainda amo.
Amei-o por dentro,
por palavras e canto.
Um suposto sentimento
de afago e tanto
que há dele em meu peito.


Eu amei um Rei
e pelo visto tanto amava
Desconhecido que sei
em mim se encontrava.
Um suposto de dentro
sentindo-me e sendo (em nós) 
o que em mim tem feito.

Nayara Oliveira

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ao poeta passarinho


Arrancou-me as pétalas passarinho!
Mas as minhas sementes é que deveriam.
Não foram simples cócegas,
foram dores
e minhas cores.

O que faço com esse verde pálido?!
O que faço com esse tronco pelado?!
Não ganharei mais cantadas e melodias
Não alimentarei os teus rivais.

Arrancou-me o coração passarinho!
Mas os meus poemas é que deveriam.
Não foram simples palavras,
foram dores
de amores (passados).

O que faço com essas letras perdidas?!
O que faço com esse sorriso repentino?!
Esperarei a doce primavera e poesias
Bela, não serei uma flor a mais.




Dedico este poema aos meus poetas
E se você que está lendo assim se considera
Te dedico!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A sede do mundo

Ponderações
AH! Estou toda inspiração e fico feliz que sejam as pessoas responsáveis. Há muito não escrevia como escrevi hoje e como a vida é bela. =)

Quero agradecer ao meu querido Augusto Dias pelo selo ofertado. Aviso desde já que vale a pena viver seus poemas.

O Poema a seguir é um pouco extenso, um filho de três quilos! Mas não posso deixar de amá-lo como os outros.
Sintam-se.



Poesia

E quando a chuva cai lá fora
uma lágrima cai aqui também.
Eu sei.

É a sede que tem o mundo
de embriagar-se da minha matéria.
É a sede que tem o mundo
Em ver o meu corpo reduzido ao pó.

Os meus seios,
que outrora derramaram leite,
mitigados
à nódulos lânguidos mamários.

O meu suor,
que brigou e correu ao céu,
açoitado
pelo esbranquiçado de minha pele.

E a saliva,
que temperou lascivos beijos,
ressequida
à redenção de rachaduras e deserto.

É a sede que tem o mundo
Em ver meu pó dissolvido no mar.

O mundo quer a fartura do meu corpo
extasiar-se com meu elixir,
mas o prazer é mérito dos puros e poucos
que ousam em mim existir.

O mundo quer desidratar minhas idéias.

É a torrencial vida
que avassala suas intenções nas intenções humanas.
É a conspiração da natureza,
que enseja retomar seus elementos
para criar novos entendimentos
e se desfazer do velho e usado.
É só uma lágrima perdida
um pedaço de mim
que não volta
Eu sei.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Do E

E o tempo que não tem tempo pra mim.
E a complexidade da modernidade.
E o ar que está vermelho.
E a mente que só cansa.
E o amor poluído.
E a lembrança.
E u Eu.
E.




Ouvindo: Alguém Total, composiçao de Luiz Tatit na voz de Ceumar.
"Vem me abraçar, vem
Vem reparar, vem.
Quem é que abraçou quem,
pois vou lhe abraçar também.
Quem quer um pedaço,
um pouco de alguém
Abraçando tem
E ainda mais
Se o abraço for além de um minuto
Aí é fatal,
Envolveu
Você tem
Um alguem Total."

GENIAL, eu acho digno!

domingo, 4 de julho de 2010

Poesia pra ir


Como quem anda a olhos cegos
pelos passos de linhas tortas,
que despidos procuram o reto
por espasmos entre-portas.

O cabelo consome o vento
como o desejo consome a ida.
Meu caminho persegue o intento
de curar a vida tolhida.

Sou eu que vou a ti
com armas de cortar atrito
com flores de cheirar bonito
com lágrimas que não senti.

Sou eu chegando em ti
pra acariciar teu gênio forte
pra me deitar e dar suporte
pra sustentar o que menti.

E de quem chega à peças fracas
Por seguir a estrela D'alma,
olhei na fenda da brisa larga
e vi seus olhos em minha palma.

Eu fui e te vi aqui
Você já estava lá
Amanhã comigo.
Ontem, agora
em todo lugar.




Foto: "To chegando", Série "ComCentro", Santos, 2010.

sábado, 26 de junho de 2010

Poeminha


Meu amor é poesia
e só a poesia
um papel.
não há pulsação, não há coração.
Só há poesia, melancolia
e um teatro de letras.






Foto: "Olhe pro lado", 2010, Santos

domingo, 13 de junho de 2010

Das fases


A percepção

Escutei as reclamações de dentro
e protegi as palavras do vento.
Tudo para que os queridos faltosos
não dessem com efeitos supostos

Mas a vida é tão previsível,
que fingi não acontecer o acontecido
e do humano, o imperceptível.
Tapei os olhos e fechei os ouvidos

A insanidade

Calei-me pelos segundos tortuosos
e escutei o ranger dos meus batimentos,
antes fosse pelos olhos virtuosos
que seriam formas do renascimento.

Mas as batidas careciam de ar,
tomados pelo molesto torpor
procedido dos olhos negros
que causaram tanta dor.

-Atira-o à morte! Eles me disseram.
-Como mato um sentimento?
-Enfia a faca e torce
como um só juramento.

Crendices

Mas jurei não sentir outro igual,
uma jura com toda incerteza.
Porque em verdade sou mortal
e quebrá-la não seria surpresa

E se de fato eu tiver que escutar
e arrancá-lo de meu peito?
O que sobraria em seu lugar?
Senão o vazio de seu leito.

A questão

Oh dúvida que paira pelo poema.
O que as palavras fariam em meu lugar?
Se o arranco de mim, sem mim vou ficar,
se o mato em mim, a mim vou matar?

O sentimento é meu,
E eu sou do sentimento.


Eu fiz figa pra não tê-lo.
E agora o sinto como propriedade.
Credo em cruz que maldade!
Mas em mim não agüento retê-lo.

A falsa paz

Peguei duas rezas e apertei as mãos.
Pedi ao tempo aquela calmaria.
Caiu as lágrimas de quem acredita.
Segurei o soluço do coração.

Respirei profunda a convicção
e abri os olhos e destapei os ouvidos.
Meus batimentos não mais eram sentidos
e o conformismo me deu as mãos.

Fui lá fora sentir
e mentir que eu não sinto.
Deixa o tempo vir matar
o que não mato e finjo.

A Dor

Foto: "Leia-me", Nayara Oliveira, 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A liberdade do sentimento e a escravidão do pensar


Você pode sentir o frio, você pode sentir o calor, você pode sentir a poesia em seus lábios, o vento tapear seu rosto e sentir saudades da brisa do mar, porque é livre junto com o mundo. Você pode voar a bordo de um pequeno coração alado. Pode fazer o que bem entender da vida e pode escolher para onde seus olhos irão direcionar. Mas a liberdade tem um custo: a escravidão dos pensamentos.

Ficam retidos na lembrança, limitados no pensamento do pensamento, acondicionados na memória remota das coisas que foram importantes, mas que não foram notadas, como a maneira que a mulher grávida te olhou ou o porquê daquela pessoa estranha te defender, sem saber qual sua cor favorita. Seu pensamento não te acompanha, fica matutando o que já foi pensado, fica decifrando o código que não tem lógica, fica a racionalizar o coração.

Controlamos nossas escolhas? Qual liberdade é mais importante: a do sentir ou a do pensar? Ou as duas são a mesma em máscaras diferentes que se apresentam em carnavais distintos? O fato é que pensamos que podemos sentir, quando na verdade já sentimos involuntariamente ou sentimos quando podemos, mas na verdade já pensamos antes de poder.

Meu sentimento é livre, mas meus pensamentos não. Sigo em busca de alforria ou de outra escravidão.


Foto: "Tic", 2009, em uma rua de S2P

terça-feira, 1 de junho de 2010

O domingo de romance

Eu não entendi muito bem porque ela estava falando da diferença entre o sentimentalismo convincente e o realismo sentimental. Pra mim, aquelas palavras não faziam o menor sentido. No entanto, eu olhava aqueles olhos castanhos perfeitamente alinhados, os cabelos médios repicados de leve, que vinham até metade do seio milimetricamente desenhado, a boca carnuda desidratada, as coxas grossas, porém pareadas, os dedos retinhos, o cheiro de alfazema, um corpo genial.

Mal podia eu pensar que estaria com ela assim,nos meus braços. O ônibus balançava muito e era uma ótima oportunidade para mostrar que ela podia se apoiar em mim.
Foram apenas alguns minutos e meu pensamento a tratava com toda eternidade de sentimento. Eu queria casar com ela. Sim, naquele instante era a mulher da minha vida. A luz do sol refletida em seu semblante me mostrava que não havia outra alternativa. Eu a amava diferente do que já amei.


Eu sabia que ele não estava prestando atenção no que eu estava falando e que não tirava os olhos dos meus seios. É, os homens tem essa feia mania,mas se eu fosse me ofender com tudo... Eu me sentia tão sozinha e ele apareceu tão disposto. Disposto a quê? Só podia ser sexo, como todos. Mas era diferente. Eu vi, quando me abraçou, figindo me segurar, tirando uma casquinha do meu perfume. Confesso que me senti segura e o cheiro másculo de seu pescoço me incentivava a continuar.

Não sabia exatamente onde ele estava me levando. Não sei como confiei em alguém que há pouco conhecia, mas tudo era tão vivaz e o meu sentimento de vivências, me fazia destemida. Paramos em um lugar muito grande e esverdeado. Já sabia onde eu estava, em um belo horquidário. Vimos pássaros e árvores e o ar puro de sentimentos não tão puros assim.


Ela ficou feliz em ver as orquídeas. Toda mulher gosta de rosas e orquídeas. Sei que ficou impressionada quando eu peguei um ramo e acariciei seu rosto. De olhos fechados, ela dizia que eu estava quebrando a barreira que toda mulher impõe. Ela tinha que ser minha.

Ele pegou em minhas mãos.

Ela ficou apreensiva, senti. Fui chegando perto.

Ele foi se aproximando, aproximando. Até que me beijou.

Então eu a beijei. Não aguentei. E fui beijado de volta.

Não resisti. Tive que beijá-lo também.


Até que o sol se pôs. Tarde Linda, linda tarde. Estavamos felizes e tristes. O dia acabou. Apertamos as mãos, nos abraçamos e fomos embora. Sem nunca mais se ver, sem nunca mais se ter. Sentindo a intensidade de um romance de um dia, mas sentindo a frieza de um romance moderno. Os domingos nunca serão mais os mesmos.


Quem é ela? Eu não sei.
Quem é ele? EU não sei.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Conversa de saltos batidos

"Veja você, como é que tudo foi chegar assim? Eu sei que está tudo uma loucura e que as pessoas adoram complicar o ponto de vista. Eu vi, a gente só queria um amor quando ele apareceu a gente não quer mais. E o que fazer com os restos, vamos levando entre uma balada aqui, um cigarro ali, um sexo ai...nos acostumando a ser Clarice Lispector. Deus parece as vezes se esquecer, tá não falo mais isso, nem você. Vejo eu, não sei porque eles se comportam assim e fica pior pra você que está longe de mim ou melhor, eu não sei. Aqui também não está fácil os pensamentos são frenéticos, mas as vontades covardes sabe como é: pensa que faça, mas não faça o que pensa. É, mas estamos aqui. Façamos..."

Tá bom, sei que o nosso lema de amanhã será "José na minha teia".

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Não basta


Uma chama acesa na fogueira:
o fogo não basta para queimar.

Uma luz no fundo e o sol nascido:
a claridade não basta para enxergar.

A chuva torrente e o mar profundo:
a água não basta para saciar.

A terra batida e os pés descalços:
a energia não basta para sentir.

A fotossíntese e o ar que respiro:
o oxigênio não basta para respirar.

A simplicidade não basta
o saber também.
Dessa realidade tão vasta
alheia ao aquém.

Uma vida não basta,
ao que a felicidade detém
e o que o homem afasta
o passado retém.

E na mesma palavra
de imaginação tão casta
a amplitude de um poema
por si só, não basta.

Tudo é muito mais do que realmente é
e muito menos do que pensamos ser.
Eu por mim não me basto.

Exposição: Urban Manners 2 - Sesc Pompéia, abril 2010
artístas: Thukral & Tagram (Índia)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Meu lugar

Do alto da estrada escura, os pontinhos de luz humana... emanadas da cidade grande. Onde é o meu lugar? Eu te pergunto poeta e eu mesmo respondo, porque também sei sentir. Mas na verdade não sei ouvir meu coração, por isso fico a perguntar: Onde é meu lugar?

Meus olhos lacrimejam diante do adeus, mesmo sabendo que logo voltarei. Em nenhum recinto há tanto ar puro e beleza nas vestimentas das plantas, não há mistério cotidiano, só as indagações do ser. Mas quando chegar eu saberei que lá também é meu lugar. E se não souber? Só a ti posso perguntar.

E eu sei que no fundo eu finjo duvidar - no fundo eu finjo muitas coisas - porque eu sei que por mais viagens que meus pés façam, por mais dias que eu fique ausente, somente em ti poeta é o meu lugar, somente em ti.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A minha Velhinha

Um doce. Essa era a definição mais apropriada para a minha Velhinha. Ô gente, nunca se viu na terra pessoa mais bem humorada. A velha acordava feliz e dormia sorrindo. E quando alguém lhe fazia um desagrado, é claro, ela ficava triste, mas jamais com raiva.

Tinha que ver aos domingos, a família toda reunida na casa dela, era gente jogada no sofá, nos quartos, na cozinha, na varanda...Também, o que era de filho, neto, cunhado, namorados das netas, namoradas dos netos, amigos das família, cachorro, primo distante, primo do genro, coletivo.

As tias na cozinha pra fazer os quilos de macarrão, a maionese e o frango assado. Delícia. Os tios na varanda tomando cerveja e dando risada. As crianças na praça brincando. Volte e meia surgia um arrancarrabo e as mães iam furiosas bater nos filhos, mas a velhinha não deixava. Se colocava em frente e os danados todos rindo debaixo da saia dela. Eu já me livrei de várias surras assim. Os aborrecentes ficavam na sala vendo tv, entediados com o programa de família ou então jogando algum vídeo. As primas aproveitavam para fofocar nos quartos, fazendo intrigas. Sem contar o cachorro, vira-lata que só. Quando não fazia bagunda, era ele a própria bagunça.

O Vô ficava só olhando, rindo e chamando atenção em caso de extrema necessidade. "Ô baianada", ele dizia.

Era sempre muito assim, era tudo muito legal. Até que as crianças foram crescendo, alguns foram dando outras prioridades na vida, outros se separando, outras pessoas de afastando, mudando de cidade ou até sei lá o que, e as vidas foram morrendo. E o que sobrou?




Sabe, ontem eu sonhei com a velhinha. Ela estava toda de branco, linda, rindo com um pano branco na mão e desse pano branco saíam coisas bonitas e coloridas. Ela me disse pra não me preocupar, que daquele pano branco só iriam sair coisas boas, para nós.


Assim como eu acredito no sorriso de cada dia, eu acredito na minha Velhinha.

Saudades (L)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Thoughts

Não cabem pronomes possessivos em minha sentença, nem mesmo "I me mine".


Música: I me mine, Beatles, Let it be, 1970

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Básico

Basicamente há uma cura,
Adormecida nos corações.
Sem rumo, sem pressa
Idênticos aos motores.
Comuns, sem sentimentos
Obrigados a não sentir
Orientados a não prestar atenção.
Eles consomem acordes sem sabor e
Indiferentes seguem a multidão
Sacaneando as expressões.
Acontece que para eles,
Basta a necessidade de faltar pedaços...




Bom, como puderam perceber são poemas conjuntos, como se fosse a resposta à acidez.
Faz um tempo que escrevi essa dupla (em 2007), mas pra mim é muio presente. Poderia dar a vocês tantas interpretações, tantas posições, mas fica a imaginação, que é a bailarina do pensar.

Pensei em retratar o básico em minha arte, mas é muito difícil discriminar aquilo que não é perceptível, mas que ao mesmo tempo é inerente ao Tudo.

Básico é:
1- O que serve de base;
2- Quem tem excesso de base;
3- Que tem o valor de pH superior a 7, a uma temperatura de cerca de 25º C. Igual a alcalino e diferente de ÁCIDO.

sábado, 17 de abril de 2010

Ácido




Aumente o volume.
Certamente seus ouvidos padecerão.
Imagine o mundo corroído,
demasiadamente feliz
ostentados por acordes lúdicos,
obcecados por prazer.

Desculpe a sinceridade mas,
Ingênuos, todos cedem.
Como se fossem obrigados a gostar.
Amanhã, certamente, lhes faltarão pedaços...


Este post é dedicado ao meu amigo Toni, toniboy!

Projeto Colagens - "Acid test"; 2008, Nayara Oliveira

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Selo Beautiful blogger


Eita, mais selo ai pra nóis!
Esses amigos!
A galera do Lado B indicou este selo ai http://b-acido.blogspot.com/2010/02/1-selo.html
Como boa amiga que sou, vou retribuir
Lado B, obrigada!!!


Hã?! Sete coisas sobre mim? ^^
1 - Um ser complexo
2 - Chico Buarque, Beatles e Interpol (e vários outros)
3 - Adoro alfajor e suco de laranja
4 - Nos finais de semana na Augusta lixo
5 - Movie & move!
6 - Alberto Caeiro e Conan Doyle
7 - Faço Direito e vivo errado.


Agora a parte melhor, os blogs que eu recomendo:


No Passo do Mundo
http://danielmaiasilveira.blogspot.com/


Essa Boneca tem Manual
http://olharpramim.blogspot.com/


Lado B
http://b-acido.blogspot.com/


Escrevo para me perder
http://rgpfarrius.blogspot.com/


Um grão de João
http://jcotero.blogspot.com/


Blog das duas e dez
http://duasedez.blogspot.com/


O Cordão
http://ocordao.blogspot.com/

Tem mais um monte de blogs que eu recomendo.
É isso.

Selo Comentarista Excelente


Daniel: Naná, não esquece que tem um selo pra você lá no blog!
Nayara: Ué, pro blog?
Daniel: É.
Nayara: hum, e o que eu faço?
Daniel: Você copia e cola o selo no post, depois indica os outros blogs dos comentaristas mais presentes e assíduos, uma homenagem a eles.



Pois é, meu amigo Daniel Maia Silveira me homenageou com este selo em seu blog
http://danielmaiasilveira.blogspot.com/2010/03/selo-comentarista-excelente.html
e aqui eu devolvo as homenagens ;)


Este selo tem o objetivo de homenagear os comentaristas que além da assiduidade dos comentários e do carinho com que são feitos, provocam-nos a reflexão, entusiasmo e empolgação para continuidade do nosso trabalho.

O intuito deste selo é que os blogueiros referenciados façam referência ao blogue que os homenageou, escolham outros blogues que achem justo homenagear, com o respeito pelos critérios atrás indicados, copiem a imagem do selo e mantenham a lógica do texto aqui apresentado.

Assim, ai vai:

Escrevo para me perder... - http://rgpfarrius.blogspot.com/

O blog do Daniel, mesmo ele tendo me indicando eu retruco
No Passo do Mundo - http://danielmaiasilveira.blogspot.com/

O blog do vinicíus que sempre comenta
Blog do Ni - http://nibecker.blogspot.com/

vixe, se eu esqueci de alguém pode me cobrar, eu deixo ;)

domingo, 11 de abril de 2010

Eles dizem, eu digo.

Se disser certo que meu egocentrísmo move minhas pernas, eu digo acreditar. Se eu lhes disser que falta fé na qualidade dos sentimentos próprios, dirão concordar. E se ainda disser que as palavras foram as mesmas antes de fazer e quando de se responsabiizar. Elas serão as mesmas, mas com intensidade e sentido desigualmente valoradas. Irão me dizer que causei efeitos que sobrepõe meu quadrado pessoal, impacto social.

Lamentarei.

Contudo. Digo, como um poeta amigo meu: Tudo vale a pena...quando nossas almas não são pequenas.



tenso~~~

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Uma coincidência, um incidente

É certo como as coincidências estão presentes e como não se explica seu magnetismo, acredito que daí que nasce o tempero, da não explicação e da incitação.

Eu saí pra comprar uma água. Uma hora atrás eu diria que compraria uma cerveja, mas naquela hora eu tinha cede de pureza. O balcão estava lotado, mas o barman era um velho conhecido, dos dias de má-época. A respiração dele arranhava meu pescoço acariciando meus cabelos. Eu olhei pra trás e vi que os seus dentes eram perfeitos. Ele se desculpou, disse que estava apertado e que as pessoas, nestas situações, acreditam que dois corpos ocupam o mesmo espaço. Disse-lhe que não tinha autoridade para falar de física social em páginas sem linhas e em diálogos fast-food. E ele me questionou a totalidade das relações de poder para determinar quem tem prestígio de decidir.E assim foi.

Uma certa antipatia ou carinho foi criado ali, semelhança alguma no gosto ou posto. Não haviam paridades, opinião uníssona ou ligação ancestral. Éramos totalmente diferentes, antagônicos, opostos, distintos, etc.

Eu perguntei a ele, se realmente queria continuar aquele diálogo, porque os batimentos cardíacos eram intensos e os ânimos eram impulsivos. Ele chegou muito perto e disse que não perdia seu tempo com conversas monótonas. Chegou muito mais perto. Eu encostei o nariz em seu ombro e disse: “Direi uma coisa. Eu sou romancista e acredito na terra dos romances prontos. Eu faço meus romances e os vivo. Seja viver nas páginas, seja fazer na vida.”. Ele me olhou com olhos de cristais e disse: “Eu nasci de um romance e num romance me fiz, escrevo e vivo, vivo do que escrevo, porque a cada dia eu nasço de novo, me recrio. Hoje, aqui com você, eu remansci.” Beijou-me com beijo de europeu. Os olhos azuis não mentiram e a explicação para o sentimento sentido somente a música, porque era a mesma, disso eu sei. Ficou o silêncio, o sorriso e a coincidência.

Naquele dia eu vi que de tudo o que me faz pensar, de nada posso concluir.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Diálogo: No carro

Ele abriu a porta esquerda do carro, entrou, sentou e ligou o motor. Eu fiquei parada meio incrédula do outro lado, quando o vidro se abaixou e ele gritou: "Você não vai entrar?". Eu entrei.
Fiquei um pouco pensativa com isso e, assim, ele perguntou:
F: O que foi?
S: Nada.
F: Não, você está pensativa.Eu daria tudo para saber o que está pensando.
S: Quer comprar meus pensamentos?
F: Se estivessem à venda.
S: Por que não vender pensamentos aos curiosos? Pensar é intimidade, dividir pensamentos é dar intimidade.(silêncio). Qual a diferença entre vender pensamentos e vender o corpo, vender sexo?
F: Várias.
S: Ambos são íntimos, concorda?
F: Ehh.
S: E algo que ninguém pode retirar.
F: é, mas pode te obrigar a dar.
S: Sim, mas estamos falando de manifestação de vontade.
F: Hã.
S: Na verdade quando digo vender sexo, estou me referindo a moralidade e, conseqüentemente, à dignidade.  E a dignidade é algo que não se pode vender.
F: Por que você diz que vender sexo é vender dignidade? Se se faz algo por alguma necessidade ou motivo é digno. Sempre há dignidade quando há razões.
S: É verdade, mas para a sociedade, o sexo está atrelado ao moralismo, acho que pela educação religiosa presente, pois se você vende sexo, mesmo que seja motivado, mesmo que seja digno, ainda sim é imoral porque há outras formas de se obter alguma coisa, sempre há dois caminhos.
F: Neste ponto de vista sociológico.
S: Se pensarmos que o sexo é um ato do qual duas pessoas se aprofundam na intimidade a ponto de se introduzirem mutuamente formando uma ligação única que lhes proporciona prazer tão generoso, é porque há uma relação de confiança, certo?
F: É.
S: A mesma coisa o pensamento íntimo, que é algo somente meu ou somente seu. Quando eu começo a te dizer o que penso, estou te dando intimidade.
F: Você quer dizer que a partir do momento em que nós dividimos todos os pensamentos estamos fazendo sexo? (RS)
S: Por ai... (¬¬')
S: Tirando os casos de coação, todo mundo tem liberdade para fazer sexo com quem quer, na hora que quer da maneira que quer. É claro que se os dois quiserem, facilita um pouco. O pensamento também.
F: Então, vender pensamentos seria uma espécie de prostituição?
S: Os pensamentos íntimos sim. Se vender sexo em nossa cultura não é uma coisa aceita, porque vender pensamentos seria aceito, não seria indigno?
F: E os escritores? Autores e tais?
S: Eles não vendem seus pensamentos íntimos, eles vendem idéias. Pensamentos a que me refiro são os da intimidade, aqueles que só você pensa, e jamais fala pra alguém. A não ser que tenha procura... (rsrs)
F: Afe, você viaja.


(Stela e Fábio)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Eu me fiz assim

Eu me fiz mais mulher e hoje eu sou mais do pouco que fui. Eu me fiz mais sincera do que há tempo pensei que fosse e hoje sou mais. Eu me fiz assim e não me arrependo de voltar.
É bom evoluir, é bom crescer. Eu me fiz mais feliz pelo que me privei e agora senti.  Ainda bem que foi assim. Como gosto de ser o que tenho feito de mim!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Lamparinas barrigudas


Estava pensando no escuro e as lamparinas barrigudas desenfrearam a falar. Uma de um lado, a outra também, ao mesmo tempo, mas coisas diferentes. Eu gritei: "Meu ouvido não é pinico!", apontaram suas barrigas iluminadas para mim e continuaram. Bli bli bli, bla bla bla, não paravam , não paravam. Eu tentei não escutar, mas depois de um tempo foi impossível.  Algo sobre a Luzidéia, o filho da Iluminilda, a parenta do Luzidson, que é primo da Clarinete. Ahh também as idéias do Candeeiro, do pecado da Ilustrilde e outros que não me recordo.

De tanto ouvir as lamparinas barrigudas, meus pensamentos se foram e as idéias clarearam.

Foto: A avenida querida é Paulista!, 2005, P&B

quarta-feira, 10 de março de 2010

Divagações: o infinito, o ciclo e as bitucas


Eu ascendi mais um cigarro. Já se foram uns dois maços hoje e com isso meus pulmões também vão, como o verão em março, como o fluxo de um rio.
A ansiedade se acalmara, mas no fundo ainda estava aquele sentimento de euforia, que não passa com o tempo-agora, mas que só o tempo-depois resolve.
É de se notar a peculiaridade que paira sobre essa resolução, pois se apresenta no tempo como curado, mas que intimamente, onde o tempo não consegue se infiltrar, ainda está lá. Aquela brasa quente e inoperante, esperando um assopro pra incendiar. Insensível aos olhos humanos, mas notoriamente descoberto aos olhos dos olhos. Não se trata de uma “cura”, porque a doença é algo muito fisiológico que procura a razão, mas parece adequado didaticamente.
Não basta saber que sente. Em verdade, há sempre uma idéia de sentir e nunca um saber exato do sentimento, pelo menos sua dimensão é tão imensurável que as vezes se manifesta muito e as vezes, não. Proporcional ao quê? Eu não sei quais os critérios utilizados pelo... Pelo cérebro. Ou coração, se achar mais poético.
Sinto que esse sentimento seja infinito. Como as leis naturais, como a certeza da morte, como a certeza da dúvida, como os pensamentos. Mas resta saber quem é o infinito. Quem conflita com a razão, porque já a encontrou. O ciclo. Quem ou o que se esconde atrás das lentes do sentimentalismo.
Um retrato flácido, o desgosto adiado e o afoito do inesperado. Figuras típicas das horas que se conta na vida, figuras que entrelaçam as emoções e os prazeres como crochê, mas que no final não irão virar uma blusa, e sim um nada moral.
Há dois caminhos: seguir e prosseguir. Eu achei uma chave sem dentes, mas os outros também. O fato de a porta estar aberta, só aumenta a vontade de ascender outro cigarro. Ela estava aberta para um penhasco falso. Porque depois de cair, percebe-se que o sentido do penhasco era dar retorno ao infinito. Porque prosseguir? Porque não há opções mentais.
E as outras pessoas? O que elas fazem? Elas me deram diversos mecanismos para seguir em outras direções, mas no final, todos sabem descrever muito bem as sensações de pular.
O mesmo tempo que dura este cigarro a queimar, os mesmos milésimos de segundos que, se contados em câmera mais que lenta, purificam a doença, serão o tempo a durar a “neutralização” dos sentimentos, depois que passado o penhasco.
Ficam presos nas brasas e que muitas vezes, de tanto recalque, nunca mais virão a serem chamas. Por um lado é bom, porque adia pensamentos anti-mim-mesmo, mas por outro, só aumenta o penhasco próximo.
Deixar-se inserir um sentimento em seu ser, não é somente uma doença passageira. (Antes já digo que há patologias que fazem sorrir e outras que fazem chorar, eu me refiro as que se escolhe escolher.) É uma escolha feita para toda a vida, porque por mais que tenha apagado a fogueira, no miolo sempre sobrarão brasas, porque constituem o infinito, porque o infinito é tão perto quanto longe.
E o que eu faço com essas bitucas? Ou com os restos de sentimentos? Em um post anterior eu, mais feliz, fiz um mosaico. Agora, eu prefiro pensar que esse infinito cíclico é só mais uma brasa em expectativas do querer que cairão em suas essências, serão neutralizados pela dor da queda e ficarão armazenados em um cinzeiro, até que sejam resgatados, ou não.

Foto: "Cutuca a Bituca"; Shopping Frei Caneca; 2008.


domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mosaico do Amor

Se aquela casquinha de romance, foi tudo o que sobrou. E aquela velha ferida que não cicatrizou. Aquele restinho de amizade que já se perdeu. Os momentos felizes de paz no coração e as músicas de amor que embalaram os anos incríveis. O bolo de chocolate que murchou, a inocente paquera no jardim de infância, o beijo roubado!
Junte todos os caquinhos, os coloridos, transparentes, deformados e incandescentes, os que doeram e os que sorriram, os que foram e que ficaram, junte todos, todos, todos.
Pegue seus sentimentos mais puros e íntegros. Selecione os caquinhos mais bonitos e harmônicos, tudo com muito carinho. Pegue a cola essencial e cole-os, desenhando a vida, num mosaico do amor.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Na janela há sereno

Porque na janela há sereno, tenso
Que não bebe,
da minha carne,
da minha alma,
do meu ser.

O calor que esquenta
as minhas veias, teias
tê-las perto de você, será.
Será?

Molho nos papéis os velhos olhos
cheios de molhos de água e sal.
Visto a lembrança que houve
como traje de um rei
atemporal.

E se fosse só o corpo
azedo e gástrico
ainda assim, o rolo
das cordas
do comboio.

o cheiro da grama
o caos dos meus dedos
a piscina de desejos
os morangos do tango.

A corrida no parque,
Um folheto de novas
rabiscadas na orelha,
ardem.

Porque há asas nas antenas
das idéias do passado
que passam, interpretado.

Porque dessa janela, já voaram
e fica minha carne,
minha alma
meu ser.


Um poema pra você.



Agora vamos falar de arte (RS)
Hoje fui assistir a uma exposição que vale muito a pena: Ocupação Chico Science.
é muita Arte! http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/
Não há o que falar desse caranguejo, beijo!
E como o manguebeat é um movimento
a minha frase manguegirl: É muito caos pra pouca lama!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ego

Como podemos ser tão egoístas a ponto de, em nossa dor, não pensar que nossas ações também machucam?


EGO, uma palavra tão pequena pra significar tanto. Todos temos respostas de acordo com as nossas idéias e conhecimento.
Na minha posição, não cabem egos no meu dia a dia.

Perguntei pro Daniel o que ele pensava quando lia a palavra ego, ele respondeu: "penso nos caras da escola politécnica da usp. Pessoas que se acham muito mais do que são, excessivamente orgulhosas. Geralmente, pessoas com o ego muito grande também são tão orgulhosas." - Daniel Maia Silveira ( http://danielmaiasilveira.blogspot.com/ )

Perguntei pro João o que era Ego pra ele: "o meu ego é o meu eu mais egoísta ;)" (http://jcotero.blogspot.com/ )

Para o Eduardo: "Ego é a manifestação de sentidos e sentimentos do eu, para o eu."

Para a Thainá: "Ego é a Beyoncé."

Para o Renan: "Aquele que faz." ( http://duasedez.blogspot.com/ )

Para Damaris: "Ego é a felicidade na Augusta."

Agumas pessoas não souberam me responder.
Deixo pras teorias o que a prática não consegue definir.

E para você?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Pulando, pulando

Nesta noite eu sai pra pular. Depois de dois discos voadores, meus olhos já estavam alegres. Nas noites de carnaval, só se pensa: tudo pode, é carnaval! E o meu pensamento não estava diferente, afinal eu sabia o que vinha pelo ano. Meus amigos também não ajudaram, era uma competição de quem pulava mais. Minha mãe diz que isso não se chama de amigo, mas pra mim, era carnaval.

"Corta o cabelo dele, corta o cabelo dele!", dizia a marchinha. Eu juro que tentei todas as vezes imaginar quem seria o Zezé. Pensei no meu bicho deste ano, mas cortaram seu cabelo e nem era carnaval. Outra, não acho que ele seja, pelo menos não demonstra. Mas pra quê imaginar o Zezé? Olhei pro lado e comecei a imitar a pipoca.

A multidão inteira estava bêbada,não importava o que tinha bebido. É incrível como as pessoas são mais soltas depois de um destilado, umas cevadas, uma batida de vinho ou a do pancadão. Elas são mais verdadeiras e divertidas, como se o escudo caísse ao chão e, na mesma proporção, mais vulneráveis. Eu também estava lá, mas sempre me ficava um resquício de consciência que apontava: "Olha a dor de cabeça amanhã! Olha, sua mãe vai ficar triste! Olha onde você está!". Mas é tudo uma questão de abstração.

Comecei a pensar naquela (falsa) felicidade, na carência humana, nas relações, nos sentimentos, no homem, na mulher,nas amizades, nos amores, nos valores, na dignidade... Isso tudo durante a música do praieiro, guerreiro que não quer mais nada e esses pensamentos, eu pulei também.

Eu vi coisas que não devem ser vistas e fiz coisas que não imaginava que iria fazer. Se me perguntar o quê? Não poderia contar, pra poupar-lhes as vidas. Mesmo porque, essas coisas eu também pulei da minha memória.

Eu poderia ter pulado o carnaval da minha agenda, como fiz uns anos atrás, por ser radical com a moralidade e com a sanidade, mas render-se aos costumes mundanos não me fizeram menos do que sou.

Se foi o carnaval e meus pés estão cansados de tanto pular. Pulei meus olhos e ouvidos, pulei meus sentimentos e pensamentos, pulei meu coração. Só pra me distrair, só pra me divertir, só pra ser mais normal, só porque era carnaval.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Um par de Ingressos

Aos poucos leitores que acompanham o textos de Stela e Fábio, esse conta como eles se conheceram.





"Só me vem quando não há certeza, me diz conjuros pra pagar, beleza.Da incertidumbre das mesmas mãos que as suas. E me atinge da melhor maneira, como cânhamo ou cachaça certeira, pra antecipar a quarta-feira.Eu vou sair,talvez te encontrar, são cinco e meia da manhã...".
- Trrrrrriiim!
- Alou?
- Stela?
- Oi Kitti, e ai? vc vai?
- Não vou, sorry. Estou com dor de cabeça e nem conheço a banda.
- Ahh, estava aqui escutando o cd. Só conheço a mais famosa. Tudo bem, eu vou mesmo assim, já comprei os ingressos. Te vejo no ensaio, beijos.

Ela se arrumou e saiu. Estava quase na hora. Ir sozinha a um show, para os outros, seria estranho, mas pra ela não. Quase na porta, estava caminhando firme em direção a entrada, quando percebe que havia um rapaz se direcionando a ela. Pensou, será que ele está vendendo um disco da banda dele? Será que ele é do fã-clube? Será que ele precisa de 10 mango pra voltar pra casa?
- Oi, vc está sozinha?
- É, estou. - Ela pensou que ele iria rir da cara dela ou dizer que tinha medo de ficar sozinho, porque tem trauma de infância e os seus amigos queriam morrer.
- Já tem ingressos?
- Jaá.
- AH, porque eu tenho um a mais.
- ah!
- Cadê o seu?
- Tah aqui.
- vou vendê-lo.
Ele saiu em direção a fila de ingressos e depois voltou com o dinheiro. Ela ficou boquiaberta.
O show foi muito bom. Depois do show foram comer.Conversaram sobre arte, internet, música, arte, humanas e humanos, tv e esportes, complexidades e paradoxos. Eles conversaram sem emitir um som de suas bocas: diálogo mudo.
Os olhos diziam os desejos. As mãos eram pontes. No clímax do momento: um abraço!
O mundo não era o bastante. Um conhecimento, um momento, um prazer.
Ela voltou pra casa e ele também. Fábio não sabia o que estava acontecendo. Stela não sabia o que estava acontecendo, no entanto, ambos sentiam gostar.
No outro dia a vida retornou à normalidade e os dois voltaram a viver racional.

domingo, 31 de janeiro de 2010

DR Casual

A: - Se você está me dizendo que não fez isso, eu acredito. Só estou te perguntando porque 2 pessoas distintas chegaram para mim e disseram que te viram fazendo isso e eu queria saber de você.
B: - Eu não fiz isso, eu não faço, aconteceu uma vez, mas não faço mais. Quem te disse? Me viram? Não, ontem eu não fiz isso, não mesmo.
A: - Tá legal, eu acredito. Olha, eu não posso trabalhar desconfiando das pessoas, eu acredito na sua palavra e acredito que as pessoas dizem a verdade, pelo menos a maioria, porque quero que elas acreditem em mim, na minha palavra. Não quero ser contestada de forma alguma e por isso não posso viver contestando-as.
B: - Hã.
A: - Mas assim, você tem certeza, porque estava bêbado, não estava? Não que eu esteja duvidando, mas é que duas pessoas é um número bem significante, disseram suas características e tudo, que um rapaz moreno, de cabelos curtos e baixinho, por ai.
B: - Eu não fiz, p*$%ra.
C: - Calma, okay. Se você tiver feito, tudo bem, não vou ficar brava. Eu acredito em você, já disse, acredito na sua palavra, assim como quero que acredite na minha, porque um relacionamento é baseado na confiança, e blá blá blá. Então, se quiser assumir, lhe juro que não vai mudar nada.
B: - Eu não fiz!! Vem cá, e você? Já fez isso?
A: - EU???? Nunca.




Bom, dia 27 o blog fez 1 ano!
Não vou dar uma festa, porque ele não aproveitaria e somente gastaria dinheiro para amamentar os beberrões com cerveja barata.
Desculpe por não conseguir postar antes para que os senhores o parabenizasse. É que o tempo bla bla bla.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Uma questão de


Um canto, uma minissaia,
um sorriso, uma gargalhada:
Uma questão de intimidade.

Um barbudo, uma dondoca,
uma bailarina e uma maloca:
Uma questão de afinidade.

Um pouco de sal, um limão,
uma tequila e um colchão:
Uma questão de sobriedade.

Um cachorro, um gato,
um dono bravo e um sapato:
Uma questão de paridade.

Uma vontade, um filme,
uma coragem e um novo crime:
Uma questão de gravidade.

Uma grana e um bolso
uma nova conta e nosso imposto:
Uma questão de honestidade.

Um ser humano, um animal
um miliciano e um final:
Uma questão de realidade.

Um homem, um tolo,
uma revolta e um consolo:
Uma questão de sociedade.

Eu sei
é íntimo demais.
afinidade não se compra,
falta pinga nessa conta,
somos muito desiguais.

Eu sei
que tudo anda bem mais grave
e ser honesto é ser covarde,
e se o real é ver a verdade,
eis ai a sociedade.

Eu sei.




O que mais vocês sabem?



Foto - "No tudo, os olhos"; Projeto Colagens, Nayara Oliveira, novembro de 2009.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Liberdade


O que adianta ter o mundo e não ter liberdade?
O que adianta ter a liberdade e não ter o mundo?
Tudo é uma questão de conquista e esse "tudo" não depende só de nós.
Uma mosca que vooa no meu prato de sopa, um gato que passeia no muro do visinho, uma nuvem preta que estraga o verão, um pássaro silvestre, o vapor quente que sobe ao céu, os raios de sol que invadem a manhã, a gota de suor que sai do meu rosto, o peixe e o mar, o amar, o infinito...são livres em seus mundos, em qualquer decisão.
Eu, ser pensante (teoricamente), calculo as palavras, semeio os sentimentos e dou consciência a eles, sou gentil com as pessoas, tomo água (também) e como verduras, eu olho o mundo com esperança e ajudo os que precisam. Esse mesmo EU, de lirismo e saudade, por tanto pensar, não pode voar num prato de sopa ou caminhar no muro, mesmo que essas funções não lhe sejam atinentes, não consegue ter em seu mundo a liberdade.
Porque somos livres ou porque criamos uma idéia de liberdade?
Por que não sabemos quem somos.

Eu sou você e você sou Eu.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O copo de guaraná

Bom, essas personagens já são conhecidas. No "Pote de estrelas", o romance estava começando. Aqui, eles já sofrem com a rotina de um relacionamento, onde Stela sofre com a impulsividade e teme as consequências, no entanto, se omite por temer...



Tudo que eles tinham dividido era um copo de guaraná no meio da música do Stooges. Eram incontáveis os olhares e os pensamentos de desejo. A desculpa para qualquer atitude seria a bebida, mas ela não era suficiente para impedir que os impulsos cegassem a razão. Ela gostava do cabelo e da camiseta roxa, ficava imaginando a barba se confundindo com seu pescoço. Ele gostava do cabelo e das grossas coxas, ficava imaginando o que todo menino imagina.

Ela não podia, não podia, a música alta, a bebida, os olhares, a bebida, não podia, não podia. Ele mal se segurava, só queria, só queria, a bebida, as coxas, a bebida, só queria, só queria. Ele a segurava na cintura, que cintura fina! Suas mãos se encontravam, mal respiravam, os olhares desejavam, só queriam, os rostos se encostavam, ela não podia.

Os lábios, sensíveis, expressavam a sensação de um prazer primata. O que importa o mundo? A oralidade freudiana era facilmente aplicada com tanta histeria e perfeição. As mãos, os pés, os corpos e o prazer. O beijo!
Uma respiração e tudo retorna a girar. Assim, a consciência invade a mente mais culpada acusando racionalidade ou a sua falta, como o crime, como o castigo pelo pecado capital.

Ela não agüentou, saiu correndo como se o banheiro gritasse por seu nome. Ele entendeu, mas não pensou. Olhou para bunda da garota do lado e seguiu trespassando na batida da música. Ela, no banheiro, chorou. De raiva, de prazer, de orgulho, de medo, de todas as crises que as mulheres sentem quando sabem que fez algo que não deveria fazer, mas que adoraram. No fundo, há coisas que nunca deveriam ser feitas, há coisas que não se faz.

Stela não conseguia tirar aquele copo de guaraná da cabeça. Começou a sentir nojo da sua imagem refletida no espelho. Era somente um impulso de prazer, mas que pagaria um preço muito caro. Haveria lugar para sua impulsividade no mundo ou o mundo era racional demais? Arquétipos.

Abriu os olhos e estava sozinha no seu quarto já era noite. Pausou o LP e tomou o resto da Artrois que faltava. Pegou o telefone, discou os números que decorara. Fábio atendeu como de costume, e com todo carinho do mundo, Stela começou a contar um conto de fadas para ele dormir.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Mais inspiração

Taí, o racionalismo me pegou.
Estava na praia, bem a vontade com papel e caneta na mão. Fui buscar inspiração na natureza, nas pessoas,no sol. Comecei a escrever:
"Vim de longe e coloquei-me a compor,versos tristes de saudade, das raízes que ficaram, da semente que fui, do pôr-do-sol acinzentado, do ganizé apaixonado."
Parei, olhei pro mar, olhei pros bêbados, olhei pro surfista e ele olhou pra mim tbm.
Não conseguia continuar, talvez conseguisse escrevendo pra vocês, mas não no local da inspiração.
Os PMs de bermudas passaram, me olharam, é claro, mas não sei se com os olhos do Estado ou do estado.
"Alguém me disse que os pássaros voaram e não olharam pra trás, eu também não olhei
e agora eu e os pássaros, somos passado."
Parei, novamente. Os PMs voltaram e abordaram um jovem.
Fiquei pensando nas hipóteses, nos crimes, prevendo os atos: "Se encontrarem um cigarro de maconha, crime de porte de droga, art. 28 da Lei 11.343/06,termo circunstanciado, se encontrarem vários cigarros e uma grana, tráfico, art. 33. Se o moleque começar a bater boca com eles, e espernear, resistência, art. 329 do Código Penal, mas tem súmula que não considera, o promotor iria arquivar, ou desacato, art. 330 do CP, não não. Se o PM bater nele, abuso de autoridade, os PM não são punidos..."
E assim, joguei fora toda a minha inspiração.
Eu tenho casa, família, uma bicicleta e um cabelo liso, mas não tenho inspiração.
Estão racionalizando meus pensamentos
Estão tirando minha P.arte.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Poema novo


Um conto para o novo ano
Um desconto para os atrasos.
E os novos velhos planos?
Presentes na agenda.
Entenda, esse é só o começo
do início do passado.

O natal já passou para desejar-lhes um feliz natal,  no entanto, ainda é tempo de dizer:
Um ótimo 2010 a todos.