segunda-feira, 29 de junho de 2009

15 passos



Passo meu ponto e passo a caminhar.
Passou por mim por um passo
o passado de 15 passos,
feito pena, feito pássaro
feito o pensar.

Mais um passo
e o que está passando na tv?
Um por um
cada pé com seu compasso
e 15 passos pra chegar em você.

Só um passo a passear
no outro lado da calçada
um pessegueiro à 15 passos
marcado pelas pegadas
de um passo contado.

Num passo acelerado
O passadio pracista
15 passos ensaiados
e meus pés encaixados
numa dança passadista.


Só mais alguns passos
Pra chegar na solidão ultrapassada,
Pra passar pelo portão da passeata,
Pra pensar nas pessoas passadas
e mais 15 passos pra pensar no nada.



Inspirada na música "15 steps" do Radiohead
E nos passos de Michael Jackson.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Grito de um quadrado

Eu ainda não acredito que estou de pijama a essa hora da tarde, mas o mais impressionante é que ele não quer sair do meu corpo. Alternando entre a cadeira e a cama, finjo dar atenção a quadrada tv que, Ah coitada, ela não sabe o que diz!

Os cantos já não suportam mais meu cheiro, as paredes taparam seus ouvidos pra não mais me escutar cantar, muito menos ouvir falar do romance imaginário com um palhaço inglês e a porta, sempre de costas, nunca quer falar de porquês.

Eu poderia escrever um livro, se a criatividade olhasse pra mim e me tomasse o sangue, de canudo se quisesse. Ou um quadro bem quadrado do tamanho deste quarto, retratando o desespero da solidão. Nem se Dalí viesse puxar meu pé a noite, nem se Picasso me picasse.

Por falar em noite, eu não sei mais o que é dia,  o que são horas, o que está acontecendo no mundo ou o que é ser teoricamente tecnológico globalizado. Eu não sei qual a razão de estar aqui.

-Heyy!Alguém me ouvindo? Estou com fome! Desliga esse cara chato que não pára de falar! Heyy alguém me ajuda! Tragam-me café...

Se o céu da minha boca não estivesse rabiscado. Se minhas mãos não tremessem ao levantar. Se o homem pensasse mais na importância que o mundo tem sobre ele e não o contrário. Se as minhas palavras não sofressem repressão. Se meus amigos não sofressem com a ambição pelo poder que Eles têm. Se fossem pessoas dignas e não usassem a retórica pra prejudicar. Se eu não estivesse presa neste quadrado,

Eles sofreriam com a minha IRA, já que aqueles sofrem com o Irã.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Good bye Mike!


Eu sei já vinhamos chorando a um tempo pelos fatos que iam matando nosso rei aos poucos, mas confesso que tive uma mísera esperança de vê-lo sapatear mais uma vez. Não importa todos os boatos a seu respeito. Importa que ninguém conseguiu fazer o que ele fez, reinar no mundo pop. Mas eu defendo a teoria, junto com meu amigo Toni, que ele não morreu. Pegou a grana e fugiu pra um lugar onde está Elvis e Tupac, onde só entram reis. Por isso que nós, meros mortais, não achamos.

He was here to change the world.

Ps: ele mais que fazia P.arte

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Retrato da traição

Logo hoje que fiz um mural de bromélias pra te presentear, viram seu rosto por detrás de outro rosto, viram seu lance numa cena de tv. Viram seu lado que só Deus conhecia, viram a máscara que caia...
Logo hoje que eu fiz pensar que amor é um belo clichê, viram seu carro parado em um outro posto, viram sua sunga azul em outro varal. Viram seu lado distante, que era atenuante pro desfecho fatal...
Logo, justo hoje que eu fiz um pavê, viram sua mão na outra, sua boca na boca, e o resto já sabe. Viram seus quadris rodando, com outros ossos roçando em pleno dia. Viram seus pertences achados, jogados num quarto de sei lá o quê...

Era eu, era você, nós dois na moldura. Agora Ela era parte, pintada também.
Era noite era dia, ninguém sabia. Agora todo mundo pintado neste retrato de cine privê.
Estamos diante de um trato de dois mais um são quatro, só falta eu escolher.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Papel de Parede

Aos Segredos teus.
Enquanto eu gloso o seu rosto num canto de um conto da literatura, você interpreta uma conversa reta sem destino ou extinção de um dramaturgo importante. Mal sabe você que do lado destas pilhas de livros de antropologia comportamental, sociologia das vacâncias e dos "Principais autores de peças teatrais" há alguém, que além de Shakespeare, também lhe repara muito bem, querido (Ro)meu. Você olha pro livros com tanto amor, como é possivel não me olhar? Eu sei que sonha em ser um bom ator e que quer comprar uma casa na praia de Ipanema pra sua mãe descansar. Digo-lhe, oh Amado! Para ser Rei é necessário ter Rainha, uma mulher que te dê impulsos, carinho e prazer. Cuide-te como Helena, te dê o iluminismo de Jane Austin ou te dediques como Sônietchka, como num romance russo.
Mas só vês as portas e as estantes e o único papel que faço na sua vida, é este que te corres o olhas e nem nota, figurino da sua ascensão, tal como a parede, tal como o chão.
Dos segredos meus.

domingo, 14 de junho de 2009

Untitle

Quando o pouco parece loucura,
queira Deus, me segura,
tire de mim essa maré instantânea
de ondas tristes e de insegurança.

Lance-me no ar
empedre meu sangue,
mas não me estanque
deixe o novo se aproximar.

Que esses olhos banidos,
reticentes sofridos
lançam-se em altomar.

As singelas respostas,
artefatos da dor...
Alucinações não merecem meu olhar.

Carregando em minhas costas
um delgado torpor
uma imensidão de anjos desesperados.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dasabafo (complete o texto)

Não tenho a mesma dedicação com os meus estudos como tinha planejado no início do ano. Não tenho vontade de escrever tudo o que o professor pede na prova com aqueles espaços em branco achando que eu vou completar a parte que lhe falta na vida, como se eu soubesse rezar,  e pior, não tenho vontade de pensar. Fico em casa vendo televisão e todo o meu sorriso vem da piada sem graça do humorista desesperado. Folheio o jornal e leio somente os títulos, por desencargo de consciência. Não consigo me concentrar na história de Dostoiéviski, apesar de sempre pensar nela. Sou capaz de ficar uma hora inteira olhando pra parede esperando que ela fale alguma coisa.

Há coisas na rua que estão me irritando, afetos demasiados, sorrisos prolongados ou simpatias gratuitas. Essa propaganda do dia dos namorados, sendo que eu sei que mais uma vez eu não vou receber flores. Vejo-me cobiçando algo que nunca me fez falta. Como podemos sentir falta daquilo que nunca tivemos? É somente o desejo de ter, e depois? Como será? E a dúvida, que se alimenta da venda preta que cerra meus olhos, é mais uma a cutucar minha cabeça de forma que a dor me faz parar e a razão continuar como se fosse o freio e o acelerador brincando com os passageiros no banco de trás. Mas quem está na direção? E a comida no meu prato que perdeu o calor e a vontade de me alimentar, contando-me histórias, triunfantes,  de como chegou até ali.

Pra piorar, eu tentei, eu juro, escrever alguma coisa interessante pra vocês, mas meu cérebro e meu pensamento estão tão contaminados que as únicas palavras que me vêm a cabeça são: _________________________________________________________________ . 

domingo, 7 de junho de 2009

Poluição amorosa

Eu caminho pelo mundo contorcendo-me de dor. Porque meus olhos sangram com essa poluição amorosa.
Todo mundo se ama e todo mundo sofre de solidão.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Linha Azul

E de repente eu vi o moço parado em frente a porta magnética, esperando que ela abrisse para entrar no trem. Foi um passo com o pé esquerdo, os olhos procurando um assento disponível e os meus olhos procurando uma atenção nos seus. Todo de branco, como se fosse o médico que iria curar a minha doença, acho que foi isso que eu vi naquela hora, uma cura. Mas não é plausível atribuir ao branco a cura das doenças da cabeça. Não se sentou, não havia mais lugares, de modo que eu o via, descaradamente, pelo reflexo da janela. Ele nem se sentiu incomodado por estar sendo vigiado, talvez nem sabia. Dizem que os anjos não ligam pra vaidades.

A mulher do meu lado, bem percebeu a presença do jovem e nem se deu o trabalho de olhar pela janela. Ela tinha os cabelos brancos e engomados, como se fosse dia de festa. Na sua mão um lenço cor amarelo cobre com missangas azuis e vermelhas. O sapato de dança de salão, mas se via que nunca tinha dançado na vida. Os olhos juvenis se deliciavam com o mero deleite, a sensação de vida com a paquera, era mais um sono gostoso de juventude anonimada.

O homem que me olhava - e eu só fui perceber depois - sacava meus pensamentos, mas eu sacava mais os dele. Ele estava triste e desolado com a mulher, sabia que ela não gostava mais dele e estava procurando uma outra distração. Mas ele sabia o motivo, trabalhava demais e com o passar do tempo não sabia mais voltar pra casa e sentir-se a vontade. Olhava pra mim como se eu pudesse sair correndo com ele e mudar de vida, via em mim a esperança de uma vida toda pela frente, mas mal sabe ele que...

O menino que entrou de mãos dadas com a mãe estava muito feliz por estar ali. Não tinha espaço pra sentarem e por isso ficou brincando de surfar com o andar do trem, olhava pra mãe como quem diz "olha mãe, eu consigo ficar sem as mãos!" e quase cai quando o trem parou bruscamente. A mãe olhou dizendo: "Tah veno, eu falei pro cê segurá, vai caí menino". Ele riu porque não tinha caído. eu quase fui brincar com ele, mas já não teria a mesma graça.


"- Estação Paraíso." O maquinista gritou. Todos desceram, até o homem que me olhava, até o moço de branco. Os outros figurantes iam descer na Luz ou na Saúde, eu não sei. E eu fiquei sentada esperando a Santa Cruz chegar.