domingo, 22 de novembro de 2009

As escolhas

Vivo no dualismo razão e emoção e, assim, faço minhas escolhas. Escolher é uma das coisas mais complexas na vida. A escolha é perpétua, e muitas vezes irreversível, assim como o ato de escolher.
As vezes escolho com a razão, porque sei que ela é a melhor opção, mas quando eu começo a andar na direção de minha escolha, meus olhos se voltam pro lado e desejam veemente a escolha da emoção. Eu não posso voltar e sei que fiz a melhor escolha, mas como explicar pro coração? Mas como conter o desejo de voltar? Com isso, como consequência, fico parada ou então até caminho, mas vagarosamente.
Vocês devem estar pensando: "oras, volte!". Contudo, sabem que depois e dados alguns passos, a saída para o retorno já passou há muito.
As vezes opto por escolher a emoção. Geralmente quando a escolho, não penso muito e passado alguns passos, eu vejo que mais uma vez a escolha não foi a melhor, podia ser a desejada, mas não a mais sábia.
Para se fazer uma escolha é preciso que as oportunidades se apresentem. As vezes eu faço minhas possibilidades e dessas eu não me arrependo muito. As vezes elas se mostram subtamente, involuntárias.
Dizem que muitas dessas involuntárias são frutos das escritas de Deus. Eu peço para Ele escrever o meu caminho com muita poesia, mas nem sempre Ele me atende.
Dizem que Ele escreve certo por linhas tortas. Criticaram-me quando eu questionei a certeza das suas escritas, disseram-me que não cabe a mim julgar. Tudo bem, eu entendo, faz parte do elemento "fé" que nos constituem. Mas com certeza, eu vou mandar um caderno pautado pro céu, pra ver se Ele se aprimora na certeza quando for escrever minhas possibilidades.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

filoSophia

Eu filo, Sophia,
e vc, o que faz?
Eu bem que tento
por longos momentos
procurar a sabedoria.

Enquanto eu filava, Sophia,
o que fazia?
Eu bem que que te procurava,
você só se escondia
E ria, ria e ria.

Em casa, eu penso
Na praia, eu penso
Na aula, eu penso
e num diálogo conflitante
com meu próprio pensamento,
pensei,
que a verdade de todas as coisas,
está em você Sophia.



Para o Thales,
Que não é de Mileto, porém é do 33.
Que não passeia pela Ágora, mas que tem seus teoremas.

sábado, 14 de novembro de 2009

Será

Ele me olhou, de brincadeira.
Já faz tempo que eu tentei, uma conversa.
Jogo a rede pra pescar, mas não me pega.
Está na rua de bobeira, mas só se nega.

Balancei o meu cabelo, o vento pegou.
Saia curta de cetim, pra andar depressa.
O baton pra colorir, a face branca.
Ele viu e quer vir, mas não se entrega.

Todo mundo sabe que eu já to "ai ai"
Dizem que não gosta, dizem que ele é.
Ai de mim se acha, ai de mim se quer.
Será que será o amor ou será pois é?

Amor será, será que foi?
Se foi será, amor que foi.
Será amor e o que foi, será.
Se foi amor, o que será?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A história de Gilberto Passos

Estava 32 graus numa terra bem pertinho do inferno, porém com cara de paraíso. A praia estava lotada e bonita, pessoas desfilando com suas banhas e sorrisos, os cachorros paquerando as cachorras e os passarinhos fazendo pose pra foto em cima de uma mangueira. Um cenário normal e sem beleza para Gilberto Passos.

Gilberto Passos nascera e crecera com areia nos pés, porém odiava se sentir um empanado. Ele sonhava com a capital e com o metrô. Não ligava pra ciclovia e nem pro jardim. Gostava da lua e não do sol. Gostava do inverno. Seu rosto cizudo já dizia seu mal humor, alto e metido, porém seu nariz de batata o denunciava.

Saia de casa as 10 horas da manhã. Terno e gravata, com o vade mecum em uma mão e na outra o cartão de transporte. Onibus lotado, gente fedida. Velhos por todo os lados e crianças barulhentas. Era torturante, era cotidiano.

No estágio, o advogado mandou que ele fosse pro fórum, protocolasse mil petições, olhasse cinco mil processos, fosse em duzentas audiências e antes de tudo fizesse uma resenha do livro de 700 páginas e 7 mil peças pra parte da manhã. Ele não sabia quando iria respirar. Suas fussas enrubreciam de raiva. Mas era um excelente estagiário, era um ótimo aluno e não admitia que as pessoas lhe fizessem mal juízo.

Não aguentava mais aquela vida, no entanto não conseguia se ver fazendo outra coisa. Não podia abandonar tudo que estava lutando e sua mãe não te incluiria na herança. Os cabelos brancos na pouca idade, as olheiras fundas de insônia e a curvatura nas costas curcundas me diziam que ele não passava de um garoto infeliz.

Naquela noite estava muito abafado, demasiadamente insano perto do normal. O professor estava entregando as notas. Gilberto Passos ficou arrasado quando viu sua nota: 7,00. "SETE", ele gritou. Ficou indignado, saiu batendo os dentes e rasgando o verbo pra falar da mãe do professor. Não admitia nota mais baixa que 10,00.

Parecia que tudo estava errado, que o mundo girava ao contrário, que as pessoas tinham se virado de costas, que Deus tinha se esquecido dele, mesmo ele não acreditando em Deus, que a natureza odiava. Chutou a catraca e começou a gritar na rua:
- Deus! Seu idiota, eu sei que você me odeia. Eu sei! Seu filho da mãe, como pode fazer isso comigo. Eu te odeio, vou te processar, vou tirar suas calças!

Neste exato momento, começou a chover. Do outro lado da rua, lá estava ela. Linda e loira. Vestido florido e havainas no pé. Ela era a Carolina. A chuva a pegou de surpresa também. Ela sorriu. Estendeu a mão pro céu, fechou os olhos e deixou as gotas delicadamente tocarem seu corpo, contornado suas curvas e encobrindo-a de prazer. Ele ficou paralizado olhando, hipnotizado.

Ela olhou pra frente e o viu. Sentiu uma atração e uma piedade ao olhar aqueles olhos amargos. Foi em sua direção. Ao se aproximar ele continuava parado, como se fosse um sonho, tentou disfarçar, porém não sabia onde colocava os olhos. Ela segurou as mãos dele e as colocou em seu rosto rosado. Colocou suas mãos no rosto vermelho dele. Olhares fixos. Ela deu-lhe um beijo no rosto e disse: Deixe a chuva lavar seu coração. Ele não conseguia pensar. Ela foi embora e ele ficou. Quando a chuva parou, ele conseguiu sorrir.

domingo, 1 de novembro de 2009

Amor da solidão

Eu que nunca amei.
Um Eu que canta canções de amor para ninguém.
O Eu que compra flores para mim.

O Eu que dançou uma valsa, uma salsa com a taça de vinho,
um tango, já com a garrafa que ganhou de qualquer vizinho.
O Eu que escreve poemas de amor sem amar.

Mas, ninguém foi buscá-lo sábado à noite para jantar,
Ninguém beijou seus lábios como bem queria.
Ninguém festejou seu dia.

Um Eu que nunca quis amar
E Eu que ama ninguém.
O Eu solitário que dorme com a imaginação
E vive uma vida de casado
com o amor da solidão.