segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O copo de guaraná

Bom, essas personagens já são conhecidas. No "Pote de estrelas", o romance estava começando. Aqui, eles já sofrem com a rotina de um relacionamento, onde Stela sofre com a impulsividade e teme as consequências, no entanto, se omite por temer...



Tudo que eles tinham dividido era um copo de guaraná no meio da música do Stooges. Eram incontáveis os olhares e os pensamentos de desejo. A desculpa para qualquer atitude seria a bebida, mas ela não era suficiente para impedir que os impulsos cegassem a razão. Ela gostava do cabelo e da camiseta roxa, ficava imaginando a barba se confundindo com seu pescoço. Ele gostava do cabelo e das grossas coxas, ficava imaginando o que todo menino imagina.

Ela não podia, não podia, a música alta, a bebida, os olhares, a bebida, não podia, não podia. Ele mal se segurava, só queria, só queria, a bebida, as coxas, a bebida, só queria, só queria. Ele a segurava na cintura, que cintura fina! Suas mãos se encontravam, mal respiravam, os olhares desejavam, só queriam, os rostos se encostavam, ela não podia.

Os lábios, sensíveis, expressavam a sensação de um prazer primata. O que importa o mundo? A oralidade freudiana era facilmente aplicada com tanta histeria e perfeição. As mãos, os pés, os corpos e o prazer. O beijo!
Uma respiração e tudo retorna a girar. Assim, a consciência invade a mente mais culpada acusando racionalidade ou a sua falta, como o crime, como o castigo pelo pecado capital.

Ela não agüentou, saiu correndo como se o banheiro gritasse por seu nome. Ele entendeu, mas não pensou. Olhou para bunda da garota do lado e seguiu trespassando na batida da música. Ela, no banheiro, chorou. De raiva, de prazer, de orgulho, de medo, de todas as crises que as mulheres sentem quando sabem que fez algo que não deveria fazer, mas que adoraram. No fundo, há coisas que nunca deveriam ser feitas, há coisas que não se faz.

Stela não conseguia tirar aquele copo de guaraná da cabeça. Começou a sentir nojo da sua imagem refletida no espelho. Era somente um impulso de prazer, mas que pagaria um preço muito caro. Haveria lugar para sua impulsividade no mundo ou o mundo era racional demais? Arquétipos.

Abriu os olhos e estava sozinha no seu quarto já era noite. Pausou o LP e tomou o resto da Artrois que faltava. Pegou o telefone, discou os números que decorara. Fábio atendeu como de costume, e com todo carinho do mundo, Stela começou a contar um conto de fadas para ele dormir.

Um comentário:

Deixe sua alegria após o sinal, biiiiiiiip!