quarta-feira, 10 de março de 2010

Divagações: o infinito, o ciclo e as bitucas


Eu ascendi mais um cigarro. Já se foram uns dois maços hoje e com isso meus pulmões também vão, como o verão em março, como o fluxo de um rio.
A ansiedade se acalmara, mas no fundo ainda estava aquele sentimento de euforia, que não passa com o tempo-agora, mas que só o tempo-depois resolve.
É de se notar a peculiaridade que paira sobre essa resolução, pois se apresenta no tempo como curado, mas que intimamente, onde o tempo não consegue se infiltrar, ainda está lá. Aquela brasa quente e inoperante, esperando um assopro pra incendiar. Insensível aos olhos humanos, mas notoriamente descoberto aos olhos dos olhos. Não se trata de uma “cura”, porque a doença é algo muito fisiológico que procura a razão, mas parece adequado didaticamente.
Não basta saber que sente. Em verdade, há sempre uma idéia de sentir e nunca um saber exato do sentimento, pelo menos sua dimensão é tão imensurável que as vezes se manifesta muito e as vezes, não. Proporcional ao quê? Eu não sei quais os critérios utilizados pelo... Pelo cérebro. Ou coração, se achar mais poético.
Sinto que esse sentimento seja infinito. Como as leis naturais, como a certeza da morte, como a certeza da dúvida, como os pensamentos. Mas resta saber quem é o infinito. Quem conflita com a razão, porque já a encontrou. O ciclo. Quem ou o que se esconde atrás das lentes do sentimentalismo.
Um retrato flácido, o desgosto adiado e o afoito do inesperado. Figuras típicas das horas que se conta na vida, figuras que entrelaçam as emoções e os prazeres como crochê, mas que no final não irão virar uma blusa, e sim um nada moral.
Há dois caminhos: seguir e prosseguir. Eu achei uma chave sem dentes, mas os outros também. O fato de a porta estar aberta, só aumenta a vontade de ascender outro cigarro. Ela estava aberta para um penhasco falso. Porque depois de cair, percebe-se que o sentido do penhasco era dar retorno ao infinito. Porque prosseguir? Porque não há opções mentais.
E as outras pessoas? O que elas fazem? Elas me deram diversos mecanismos para seguir em outras direções, mas no final, todos sabem descrever muito bem as sensações de pular.
O mesmo tempo que dura este cigarro a queimar, os mesmos milésimos de segundos que, se contados em câmera mais que lenta, purificam a doença, serão o tempo a durar a “neutralização” dos sentimentos, depois que passado o penhasco.
Ficam presos nas brasas e que muitas vezes, de tanto recalque, nunca mais virão a serem chamas. Por um lado é bom, porque adia pensamentos anti-mim-mesmo, mas por outro, só aumenta o penhasco próximo.
Deixar-se inserir um sentimento em seu ser, não é somente uma doença passageira. (Antes já digo que há patologias que fazem sorrir e outras que fazem chorar, eu me refiro as que se escolhe escolher.) É uma escolha feita para toda a vida, porque por mais que tenha apagado a fogueira, no miolo sempre sobrarão brasas, porque constituem o infinito, porque o infinito é tão perto quanto longe.
E o que eu faço com essas bitucas? Ou com os restos de sentimentos? Em um post anterior eu, mais feliz, fiz um mosaico. Agora, eu prefiro pensar que esse infinito cíclico é só mais uma brasa em expectativas do querer que cairão em suas essências, serão neutralizados pela dor da queda e ficarão armazenados em um cinzeiro, até que sejam resgatados, ou não.

Foto: "Cutuca a Bituca"; Shopping Frei Caneca; 2008.


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