domingo, 13 de junho de 2010

Das fases


A percepção

Escutei as reclamações de dentro
e protegi as palavras do vento.
Tudo para que os queridos faltosos
não dessem com efeitos supostos

Mas a vida é tão previsível,
que fingi não acontecer o acontecido
e do humano, o imperceptível.
Tapei os olhos e fechei os ouvidos

A insanidade

Calei-me pelos segundos tortuosos
e escutei o ranger dos meus batimentos,
antes fosse pelos olhos virtuosos
que seriam formas do renascimento.

Mas as batidas careciam de ar,
tomados pelo molesto torpor
procedido dos olhos negros
que causaram tanta dor.

-Atira-o à morte! Eles me disseram.
-Como mato um sentimento?
-Enfia a faca e torce
como um só juramento.

Crendices

Mas jurei não sentir outro igual,
uma jura com toda incerteza.
Porque em verdade sou mortal
e quebrá-la não seria surpresa

E se de fato eu tiver que escutar
e arrancá-lo de meu peito?
O que sobraria em seu lugar?
Senão o vazio de seu leito.

A questão

Oh dúvida que paira pelo poema.
O que as palavras fariam em meu lugar?
Se o arranco de mim, sem mim vou ficar,
se o mato em mim, a mim vou matar?

O sentimento é meu,
E eu sou do sentimento.


Eu fiz figa pra não tê-lo.
E agora o sinto como propriedade.
Credo em cruz que maldade!
Mas em mim não agüento retê-lo.

A falsa paz

Peguei duas rezas e apertei as mãos.
Pedi ao tempo aquela calmaria.
Caiu as lágrimas de quem acredita.
Segurei o soluço do coração.

Respirei profunda a convicção
e abri os olhos e destapei os ouvidos.
Meus batimentos não mais eram sentidos
e o conformismo me deu as mãos.

Fui lá fora sentir
e mentir que eu não sinto.
Deixa o tempo vir matar
o que não mato e finjo.

A Dor

Foto: "Leia-me", Nayara Oliveira, 2010

2 comentários:

  1. Admiro-me cada vez que entro aqui.É como se cada linha ajudasse a diminuir a quilometragem entre nós

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  2. Continuo dizendo que vc esscreve muito bem mesmo e que as suas palavras deveriam ir além daqui.
    Amo.

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