sexta-feira, 6 de março de 2009

Montanha Russa de Estimação


Quando montei no carrinho, papai e mamãe disseram: “que coisa mais fofa!”. O meu instinto de sobrevivência verificou se a trava estava funcionando e se o cinto era de segurança mesmo. Minhas mãos se agarraram ao apoiador como se cola tivessem.
Logo, os parentes vieram visitar trazendo delicados mimos, repetindo o mesmo discurso que meus pais. Com isso e com o tempo o carrinho foi subindo e com ele minha delicada auto-estima. Não se sabe muito bem porque, mas o meu coração avisava que tudo que sobe uma hora cai, é a lei maior. Ora se não caiu.
Eu costumava ser uma criança bonitinha. Cabelo bom, franja na testa e um doce sorriso inocente. Até eu entrar na escola e descobrir que eu era a mais alta da turma. Aquela que sempre fica com os meninos na fila sendo chamada de “saracura”, enquanto as outras meninas ficavam de mãos dadas com a professora. Foi ai que eu vi que o carrinho começava a cair. Pegou velocidade mesmo quando eu me olho no espelho na hora de ir pra escola e vejo que era banguela. Mas banguela de um dente da frente. Só faltava ser coxa.
Mas nem tudo estava perdido. Virando a curva depois da longa descida comecei a sentir um friozinho na barriga, estava na adolescência. Meu corpo começou a mudar, comecei a ter formas esculturais e os garotinhos começaram a notar a minha presença. Eu sentia que o carrinho estava a subir novamente. Ainda quando se encontra o primeiro amor, o primeiro beijo. Tudo parece um conto de fadas. Até o cabelo começar a dar trabalho, o nariz crescer mais do que devia, a aparecer a primeira espinha, entre outras coisas. Meu Deus, como durou tão pouco a subida e como foi tão rápido pra logo ser comparada a um abacaxi. Pelo menos abacaxi é gostoso por dentro. Nessas horas, eu já tinha me acostumado com a descida. Soltei a mão e deixei o vento me alegrar um pouco.
Mas espinhas também passam e quando passaram eu já tinha virado uma mulher com “M” maiúsculo. Comecei a aparecer novamente pro mundo e com isso, tudo passou a subir junto com a minha auto-estima, até a malícia. Veio junto o segundo amor. Ah! Pra me conquistar disse que eu era a garota mais bonita da festa. Que ego estúpido, acreditou. Até eu escutar que ele só tinha ficado comigo por aposta e que eu era “aquela magrela estranha”. Eu nem era tão estranha assim. E “Uouu”, E lá vou eu descendo com tudo. Nessas horas tudo já é diversão, sem medos de soltar as mãos.
Eu sei que tem sido assim, uma hora eu tenho auto-estima outra tenho baixa-estima. Uma hora eu estimo demais as pessoas, outra hora eu não estimo nem a mim. Há horas que me sinto superestimada e outras que me sinto desestimada. E assim sigo nesta montanha-russa de estimação. Só sei que quando eu descer deste carrinho eu terei a certeza que vou entrar na fila novamente pra viver tudo outra vez.

Um comentário:

  1. Nossa, Nana. Ótimo texto!!! Parabéns!!!

    Essas montanhas russas da nossa vida são um verdadeiro saco! Eu descobri que a minha montanha russa tinha uns 5 ou 6 andares no subsolo... Eu cheguei lá embaixo e agora o meu carrinho começa a subir e, ao que tudo indica, a subida é longa (assim espero).

    Bjos.

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