O Filho
Durante três meses ele dormiu todas as noites agarrado a mão do querido enfermo. O ambiente cheirava a remédios e doenças, as pessoas fantasiadas de branco cuidavam e descuidavam de uma saúde valente, porém solitária numa guerra de microcombatentes. Nos seus olhos se via a tristeza caminhando ao lado da esperança, esta por sua vez rezando pra Santa Vida acudir as preces dos mesmos olhos. Os médicos calcularam os últimos minutos. A terrível espera pelo último suspiro e o cheiro da morte desencadearam uma série de lágrimas e desespero:a última respiração.
A Viúva
Muitos anos a dois se tornam uma unidade. Já sabia da fatalidade, mas nunca se quer acreditar. Não havia cena mais triste que vê-la debruçada no caixão aos prantos gritando pelo seu velhinho, gemendo palavras de consolo que não consolam, esperando abrir os olhos e acordar de um pesadelo ou atirar sua vida na janela e deitar-se ali esperando que seus filhos não sofressem. Questionar Deus parecia tão pertinente, por mais que a fé fosse a única medicina a se recorrer.Impossível não sentir dor, impossível não vermelhar o rosto e sentir queimar as lágrimas entre as rugas, manifestações de um amor.Impossível.
A Neta
Vê-lo doente de cama já foi um choque. Homem respeitado e viril. De honra ilibada e notória, sempre forte. E agora, fraco me olhando com suplício, olhar esse que eu nunca mais vou esquecer. E agora...ver minha querida avó sofrer nos meus braços e eu a beijar suas lágrimas tremula de dor. Dor essa que eu nunca senti, dor essa que vai apunhalando o peito e o estomago como se corroesse o coração, como se toda a maldade me atormentasse, dor que não cabia em mim. Pior é ver que essa dor era como se fosse epidemia, todo mundo em prantos. Um cenário mórbido e torturante. Só de pensar que a terra iria cobrir o seu rosto negro, só de pensar que os dias dos pais seriam flores no sepulcro ao invés de camisas e meias, só de pensar que o almoço no domingo teria uma cadeira vazia. A procissão de pessoas em rezas e uma família unida pela dor, resta-nos a consolação de poder viver na lembrança das coisas boas.
Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza...
Querido avô, descanse em paz.
Comecei a escrever aos quinze, quando minha vó veio a falecer. Há um momento em que passamos a entender esse grato caminho da poesia, que é quando as palavras começam a deslizar melhor a dor.
ResponderExcluirVolte sempre! Passarei por aqui também. Um beijo!
Ah, o que dizer? Você retratou bem tudo aquilo que havia me falado. Pensei em lhe dizer para escrever sobre isso, para ajudá-la, mas confesso que fiquei meio sem jeito. Pedir para expor a nossa dor é algo complicado... Mas você fez isso de uma maneira muito sóbria. Parabéns!
ResponderExcluirPresto aqui minhas condolências e qualquer outra palavra seria desnecessária.
ResponderExcluir...
Na
ResponderExcluirNão chame a isso de dor
Chame de amor