sábado, 5 de setembro de 2009

Ela, Ele e o elo

Ela parou e ficou olhando o seu inverso. Talvez lá estivesse resposta para tanto sentimento e pouca afinidade. Ele era totalmente controverso de tudo aquilo que ela imaginara, bem longe das medidas e dos padrões irregulares de sua cabeça, bem longe das suas convicções, daqueles que se ignora numa seleção natural. Mas era Ele seu tomador de suspiros, era o pescador de seus sorrisos, era o cancioneiro atrevido, que irrita e não se consegue parar de escutar.

Talvez fosse o cabelo de fogo dele que não combinava com o seu cabelo Bombril, ou as calças coloridas que não combinavam com suas saias pretas, somente o all star branco se identificava. As músicas se contrapondo, a literatura barroca e realista, uma briga entre sofistas e platônicos. Mas sempre depois da briga Ela o domava e o adorava. Ele fingia ficar bravo e se deixava, e os dois, diferentes, tornavam um só organismo depois de uma guerra mundial.

Ela era toda crua e inexperiente, fingia saber de Almodovar e Bauhaus, e decorou alguns números de lentes, dizia que as artes não são somente os olhos e sim os membros, mas mais o que eles sentem do que eles propriamente, mas isso, só pra impressionar. Leu tudo nas revistas e nos livros, mas vida que vivida, só viu pela TV. O salto alto era pra dar ênfase a essa máscara, assim como os ombros de fora e a maquiagem de artista. Porque fazia isso? Porque a sociedade assim a criou. Mas no fundo ela era pura e crua, como o barro que nunca foi tocado pelas mãos de um nobre artista.

Ele já se sentia velho, já se preocupava com as rugas e cabelos brancos. Já tinha pensado nas suas raízes, na velhice, na diferença entre as raças e no pensamento humano. Estudou as filosofias e as artes, fez monografia e subiu no palco. Cantou numa banda de rock e saiu no carnaval. Comprou uma bicicleta e fez moicano. Estudou música clássica e viu um clássico. Passou pela morte de sua mãe. Comprou muitas coisas e não usa sapatos. É professor de russo, mas gosta das tequilas. Ele era tudo isso mesmo, não precisava impressionar, no entanto, muito perdido. No fundo era como aquele velho LP só reconhecido pelos vintages escassos.

E os dois se encontravam nas esquinas e nas planícies, tomavam café pra papear. Trocavam figuras que inventavam e criava poemas pro tempo passar. Era Ela, era Ele, diante de uma circunstancia, eram os dois comendo macarrão. No museu rindo, fingindo a leitura, comendo pipoca assistindo Faustão. Não havia coincidências ou igualdade de pensamentos, crises conexas ou situação, só havia um tênis e uma fotografia, só havia um Elo: o coração.

3 comentários:

  1. Nana, a cada dia que passa você escreve melhor; a cada texto o meu queixo cai um pouquinho mais.

    Ah, meu... Que orgulho poder dizer que você é minha amiga, minha irmãzinha!

    Nossa, parabéns!

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  2. clap clap clap

    Palmas pre você, parabéns amiga, você precisa publicar esses textos, são todos lindos.
    Te amo Nayê

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  3. até o barro cru tem seu charme
    muito bom, cada dia melhor hein Na

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