quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Lírios à Laura

Já faz tanto tempo, mas ainda bem me lembro, dos assovios na beira da pia, do leite morno na caneca marrom.Cabelos brancos, banguela de dó, trapinho rosado, vestido queimado do fogo do fogão. O pão duro na mesa, seis horas da manhã, a salsicha barata, com aquele feijão, tempero divino que a pobreza ensina, à realeza dos embutidos finos.

Penteava meus cabelos, toda trançada. Sapatinho limpinho, mesmo depois do barro. Mal podia demorar no banho, era um grito gentil e eu gritava que água não esquentava, mas ela sabia que brincava de karaokê. Uniforme escolar, material inspecionado. Nem sabia ler ou escrever "higiênico", mas sabia que pra mim, era importante estudar.

Quando chegava a noite,depois da escola, eu trazia uma florzinha murcha e roxa, furtada da escola, ela dizia "bobagens". A noite, eu mal me despedia, porque sabia que no outro dia seria tudo outra vez, se eu soubesse que ela era humana, nunca me desgrudaria.

De todos as formas, o lirismo. De todas as flores, os lírios. De todas as boas, a áurea. De todas pessoas, Dona Laura.

Chegado a primavera e a saudade de há tempo.
A flor dos poetas e do canto.
Lírios aos anjos.
Lírios à Vó Laura.

Um comentário:

Deixe sua alegria após o sinal, biiiiiiiip!