sábado, 19 de setembro de 2009

Um pote de estrelas

Tah, eu sei que estou escrevendo textos muito longos e cansativos, mas esse é o último, quase prometo...


Estela discou o número que estava na sua agenda, um número quase qualquer. Fábio atendeu:
- Alou?
- Você está em casa?
- Estou, por quê?
- Pode vir me encontrar na estação?
- Você está aqui? Quando voltou?
- Estou esperando nas catracas. – Desligou.
Deu cinco longos minutos e ele apontou na entrada. Estela esperou ele passar e tocou em seu ombro. Fábio meio surpreso olhou displicente e confuso:
- O que está fazendo aqui? Você não estava em...
- Tome, é pra você.
- O que é isso?
- É um pote de estrelas. Recolhi na noite de Santa Rosa do Viterbo, peguei uma por uma, agreguei neste pote de mel vazio e trouxe para você. É o meu pedido de desculpas. – Ela o olhou com tanta doçura que as pessoas poderiam dizer que era o próprio mel fora do pote.
- Mas você está desculpada! Não precisa pedir desculpas, já passou, não me importo, está mais que desculpada.
- Não aceito suas desculpas em palavras. Palavras são retribuídas com palavras, gestos são retribuídos com gestos. É uma mania engraçada do ser humano, banalizar as coisas. Desculpas são pedidas e dadas a todo instante, mas nem todas têm a real intenção de retirar a culpa. Veja, ontem eu quase pisei no pé de uma mulher, sem pensar eu disse: Desculpa. Uma máquina faria a mesma coisa. Hoje um homem trombou comigo e doeu muito, ele disse: desculpa. Diga-se de passagem, que nem olhou pra mim. Eu disse: não foi nada. Mas na verdade eu fiquei dolorida e chateada. È costumeiro pedir desculpas, fácil demais, placebo da moral. No entanto, esse não é o objetivo das verdadeiras desculpas. Eu te deixei duas vezes, eu te enrolei como papel, eu não fui sincera. E você, pelo contrário, a toda hora me procurou, mesmo tendo a aspereza de uma parede em sua frente. Estas são minhas desculpas. Pense, quando tiver me desculpado nos encontramos e conversamos, tenho que ir pra casa.
Ele não entendeu nada porque ela falou muito rápido e ele não estava raciocinando muito bem. Ela foi e ele ficou. Embora sua vontade era de não deixá-la escapar, convidá-la pra tomar uma chá e escutar o álbum branco de cabo a rabo e de rabo a cabo duas vezes, mostrar suas artes pra impressionar e a caneca do pequeno príncipe que comprou, apenas saber a idade dela ou seu sobrenome, ou qualquer coisa que se sinta. Sabia que demoraria muito tempo a vê-la novamente. Aquelas desculpas eram melhores que um buque de rosas, era grande demais pro nada que eles eram, mas que poderia muito ser, eram as estrelas na sua barriga e não no pote ou era o pote nas suas estrelas, ele não sabia.
Saiu correndo, pulou a catraca e caiu na escada rolante. “Quase quebra, Meu Deus!”. Levantou, mas quando chegou na plataforma, só o eco sonoro dos trilhos estavam presentes. Ele olhou as estrelas em suas mãos e desejou ter tido luz própria.
Não sabia aceitar desculpas sem ser com palavras. Voltou pra casa com seus botões, pegou dois exatos grãos de feijão, deu um beijo em cada um. Pegou uma nuvenzinha de algodão, acomodou-os com todo carinho, pingou água até encolher, na medida do coração. Ali ficou olhando e com as mãos juntas e apertadas começou a cantar: “Me leva amor, amor, me leva amor, por onde for quero ser seu par...”.

Um comentário:

  1. Que lindo...
    só do seu coração mesmo pra sair essas histórias encantadas.

    adooooro.
    beijos Nanay

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