sexta-feira, 28 de maio de 2010

Conversa de saltos batidos

"Veja você, como é que tudo foi chegar assim? Eu sei que está tudo uma loucura e que as pessoas adoram complicar o ponto de vista. Eu vi, a gente só queria um amor quando ele apareceu a gente não quer mais. E o que fazer com os restos, vamos levando entre uma balada aqui, um cigarro ali, um sexo ai...nos acostumando a ser Clarice Lispector. Deus parece as vezes se esquecer, tá não falo mais isso, nem você. Vejo eu, não sei porque eles se comportam assim e fica pior pra você que está longe de mim ou melhor, eu não sei. Aqui também não está fácil os pensamentos são frenéticos, mas as vontades covardes sabe como é: pensa que faça, mas não faça o que pensa. É, mas estamos aqui. Façamos..."

Tá bom, sei que o nosso lema de amanhã será "José na minha teia".

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Não basta


Uma chama acesa na fogueira:
o fogo não basta para queimar.

Uma luz no fundo e o sol nascido:
a claridade não basta para enxergar.

A chuva torrente e o mar profundo:
a água não basta para saciar.

A terra batida e os pés descalços:
a energia não basta para sentir.

A fotossíntese e o ar que respiro:
o oxigênio não basta para respirar.

A simplicidade não basta
o saber também.
Dessa realidade tão vasta
alheia ao aquém.

Uma vida não basta,
ao que a felicidade detém
e o que o homem afasta
o passado retém.

E na mesma palavra
de imaginação tão casta
a amplitude de um poema
por si só, não basta.

Tudo é muito mais do que realmente é
e muito menos do que pensamos ser.
Eu por mim não me basto.

Exposição: Urban Manners 2 - Sesc Pompéia, abril 2010
artístas: Thukral & Tagram (Índia)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Meu lugar

Do alto da estrada escura, os pontinhos de luz humana... emanadas da cidade grande. Onde é o meu lugar? Eu te pergunto poeta e eu mesmo respondo, porque também sei sentir. Mas na verdade não sei ouvir meu coração, por isso fico a perguntar: Onde é meu lugar?

Meus olhos lacrimejam diante do adeus, mesmo sabendo que logo voltarei. Em nenhum recinto há tanto ar puro e beleza nas vestimentas das plantas, não há mistério cotidiano, só as indagações do ser. Mas quando chegar eu saberei que lá também é meu lugar. E se não souber? Só a ti posso perguntar.

E eu sei que no fundo eu finjo duvidar - no fundo eu finjo muitas coisas - porque eu sei que por mais viagens que meus pés façam, por mais dias que eu fique ausente, somente em ti poeta é o meu lugar, somente em ti.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A minha Velhinha

Um doce. Essa era a definição mais apropriada para a minha Velhinha. Ô gente, nunca se viu na terra pessoa mais bem humorada. A velha acordava feliz e dormia sorrindo. E quando alguém lhe fazia um desagrado, é claro, ela ficava triste, mas jamais com raiva.

Tinha que ver aos domingos, a família toda reunida na casa dela, era gente jogada no sofá, nos quartos, na cozinha, na varanda...Também, o que era de filho, neto, cunhado, namorados das netas, namoradas dos netos, amigos das família, cachorro, primo distante, primo do genro, coletivo.

As tias na cozinha pra fazer os quilos de macarrão, a maionese e o frango assado. Delícia. Os tios na varanda tomando cerveja e dando risada. As crianças na praça brincando. Volte e meia surgia um arrancarrabo e as mães iam furiosas bater nos filhos, mas a velhinha não deixava. Se colocava em frente e os danados todos rindo debaixo da saia dela. Eu já me livrei de várias surras assim. Os aborrecentes ficavam na sala vendo tv, entediados com o programa de família ou então jogando algum vídeo. As primas aproveitavam para fofocar nos quartos, fazendo intrigas. Sem contar o cachorro, vira-lata que só. Quando não fazia bagunda, era ele a própria bagunça.

O Vô ficava só olhando, rindo e chamando atenção em caso de extrema necessidade. "Ô baianada", ele dizia.

Era sempre muito assim, era tudo muito legal. Até que as crianças foram crescendo, alguns foram dando outras prioridades na vida, outros se separando, outras pessoas de afastando, mudando de cidade ou até sei lá o que, e as vidas foram morrendo. E o que sobrou?




Sabe, ontem eu sonhei com a velhinha. Ela estava toda de branco, linda, rindo com um pano branco na mão e desse pano branco saíam coisas bonitas e coloridas. Ela me disse pra não me preocupar, que daquele pano branco só iriam sair coisas boas, para nós.


Assim como eu acredito no sorriso de cada dia, eu acredito na minha Velhinha.

Saudades (L)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Thoughts

Não cabem pronomes possessivos em minha sentença, nem mesmo "I me mine".


Música: I me mine, Beatles, Let it be, 1970