domingo, 26 de abril de 2009

Das tripas coração

Mais uma vez estava tudo bagunçado, não só o meu quarto. De um lado, o amado. Fruto de um amor impossível, mas mais que tudo querido. De outro o amante, fruto da macieira, que desvirtua e cultiva a paixão. E no muro o meu coração, que olha de um lado pro outro indeciso, que escorrega às vezes num desaviso e fecha os olhos querendo a solidão.

O meu Amado tem bom gosto, tem estilo e bom posto. Sabe das artes e das línguas, tem humor e até uma ginga. Diz dos bons livros e das músicas mais eruditas, mas fala das gírias e até das gurias com quem ele já se relacionou. Diz que sou bonita e que me quer, diz que terei o posto de sua mulher, porque sou perfeita pra o feito. De maneira que os filhos serão direitos e não darão desapontamentos. Que o meu nome rima com o seu. No entanto, está tão longe que eu não sei até que ponto a verdade corresponde às palavras por ele dita. De tudo isso não age, é inseguro e desatento, mal me deu uma flor. Fica esperando que eu eleve seu ego ou que eu tome atitude como colo materno, mas o meu colo não é. Tem ciúmes da minha sombra e quer que eu venda a liberdade pelo carinho, mas liberdade não se compra. Não sabe nada de amor.

O meu Amante é danado. Sempre pontual e nunca chato. Não sabe nada de astrologia, muito menos de economia, mas sabe todos os modelos de carros, futebol e anatomia. Sempre com uma rosa a me presentear. Olhando feio pros caras que ousam me paquerar. Não reclama quando eu não tenho tempo, só lamenta o momento. Puxa a cadeira pra eu sentar. E quando eu estalo os dedos, ele aparece com uma piada nova a me alegrar. Sempre pronto pro romance, mas não me cobra os outros lances. Porém ele é deseleixado, daqueles que tudo é de bom grado. Não estuda nem tem ambição. Qualquer coisa é motivo de zueira, tudo vira asaração. Diverte-se em outros risos, some e nunca dá um aviso. É da noite e não conhece a solidão.

O meu Coração já sofreu demais em ficar só e agora vive um impasse que não podia ser pior. A dúvida é a traição mais reticente, que por falta de um ponto tem três. Não digo que não me sinto aliviada, porque da solidão não é mais criada, mas a sorte só apronta aos meus princípios. Ou eu aprendo a voar, e saio desta tocaia ou faço das tripas - este - coração.

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