quarta-feira, 6 de maio de 2009

O encontro

Essa mesa de bar já está pequena pra mim. Meus pensamentos andam muito mais espaçosos do que deveriam e este conhaque com groselha já tirou as minhas vestes pesadas. Na verdade era pra nos encontrar numa cafeteria como fazíamos antigamente, mas eu mudei, amadureci como um pêssego vibrante. Desde o último dia em que o vi, aprendi como me comportar em sua frente e agora sei o que não devo fazer. Este conhaque é só pra esquentar a frágil confiança e para não deixar que meus olhos me envergonhem.
Na verdade eu não acreditei quando ele disse que viria, ainda deixou que eu escolhesse o local. Sabia que isso seria uma provação, logo ele que é tão conhecedor dos “cafofos” mais propícios para as diversas ocasiões. É claro que eu me socorri dos amigos influentes, mas não acho que errei. Sei que ele gosta de discrição e por isso, acredito que este bar é o melhor lugar para esse reencontro.
Sonhei tanto com esse momento, desde aquela ligação no meu aniversário dizendo que não podia me acompanhar. Está certo que o que eu mais queria naquela hora era pular no pescoço dele, furar-lhes os olhos e arrancar cada fio daquela barba mal feita. Mas eu sei que eu estava apressando as coisas e com isso ele se assustou e sumiu. Eu tive culpa nisso tudo, por isso estou aqui. A culpa foi dos dois, mas eu só lamento de não ter dado certo.
O ruim nisso é que a Lucy não sabe que eu estou aqui, nem a Kitsune, porque se soubessem viriam me buscar e ficariam falando tanto bla bla bla no meu ouvido que... Pena que não posso ligar pra conversar com alguém enquanto ele não vem. Essa música é demais, mas o Cobain só ajuda quando estou trancada no quarto.
Já se foram quatro doses, e meu Deus! Afaste o relógio de perto de mim, minhas mãos estão finas de tanta gastura. Quem é esse cara que não pára de olhar pra mim?! Deve estar pensando: “Nossa, quem é essa idiota que vai beber sozinha? Coitada, não tem amigos, nem namorado...”. Idiota é ele, eu tenho amigos e não tenho namorado porque não quero, imagina, namorar, eu não tenho tempo pra isso. Porque ele está dando tchauzinho? Que absurdo, nem vou olhar, vai tarde. Deixa o Marcio chegar pra ele ver.
Ah! De quem é essa mão no meu ombro? Ai ele chegou, calma, respira. O que eu faço, brigo porque ele demorou? Ou finjo que nem notei? Ou digo apenas que tinha acabado de chegar? Oi... garçom?
- Srta. Sinto lhe informar, mas estamos fechando em 30 minutos. Peço para que se dirija ao caixa.
- Ahh, fechando...Há algum recado pra mim?
- Não senhora.
-Vou aguardar mais um pouquinho.

Um comentário:

  1. A gente sempre espera por quem a gente ama, e não importa quantas vezes tentarmos muda o jeito de agir da frente "deles", sempre agiremos conforme o nosso coração quer agir.
    E pode passar o tempo que for a esperança não se acaba tão cedo!
    Perfeito o texto, muito perfeito. :*

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