domingo, 3 de maio de 2009

Virada cultural

Depois de uma semana agitada, eu realmente esperava que tudo fechasse com chave de ouro, pois aconteceria, na minha cidade, a virada cultural. Estava feliz e orgulhosa por morar em São Paulo, por ser paulistana e por presenciar esse manifesto artístico colossal,  proporcionalmente ao tamanho que a cidade tem. Todos os tipos de artes: dança, música, cinema, literatura, pintura, teatro e alguma outra forma que não me lembro; inseridos na mesma noite, no mesmo contexto na mesma dinâmica. Todas simultaneamente, em todos os lugares e,  na maior parte, no coração da máquina, o centro.

Poucos conhecem a beleza daquele lugar, pois por ali passam todos os dias, mas nunca têm tempo de olhar pelas paredes ou pelo corredor. O centro de São Paulo é dotado de peculiaridade, é o retrato da cidade com um pedacinho de tudo. Tomado pela dicotomia da beleza com o horrível, do prazer com a dor e do tradicional com a modernidade descreve o silêncio dos pobres e a cegueira dos ricos, o sentido dos opressores e a desgraça dos oprimidos e nos proporciona, ainda sim, a hospitalidade de uma mãe brasileira.

A junção da manifestação artística com a mágica do centro de são paulo, fez da noite de ontem parecer um lugar místico. E por alguma hora foi, para alguns foi, por um sorriso foi, mas não foi para a multidão que estava ali para fazer p.arte do mecanismo de encantamentos. Os ingênuos como eu que se dirigiram até lá pensando que encontrariam suspiros de arte a todo lugar e a todo olhar, agregaram a si uma grande descepção. Encontrei muita arte, sim e por isso já valeu. Mas as pessoas que encontrei  não mereciam este presente que São Paulo lhes deu. Dotadas de má intenção, de balburdia, drogas, álcool e do sentimento de impunidade típico, como se naquela festa não houvessem leis. Elas fizeram da virada cultural uma transviada animal esquecendo que ali era festa pra apreciar as artes e não uma oportunidade para agreção, confusão e intrigas.

Talvez o problema esteja na carência dos paulistanos em ver arte no seu cotidiano, uma vez que é elitizada. Talvez o problema esteja na necessidade de esquecer os problemas que tanto pertuba num dia de trânsito e buzinas. Talvez não sabem se comportar em grandes festas e procuram uma distração insana que anestizie, pelo menos à noite, o sono que nunca é sonhado. Mas mesmo diante de todas as desculpas, de todas as carências e de todas as explicações nada é motivo para despir a roupa da sanidade e do respeito e tornar a alegria alheia em medo e pavor. No entanto, eu tenho motivos para me orgulhar da equipe de médicos, enfermeiros e toda estrutura de assistência presente, dos agentes que prestaram orientações ao povo e, principalmente, aos artístas que proporcionaram à minha cidade o prazer e a felicidade de fazer p.arte em mim e em todos que sentiram-se tocados pela emoção de sentir a beleza da expressão humana.

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